sexta-feira, 8 de abril de 2016

Sai uma polémica fresquinha

Depois da Pépa e da história da mala da Chanel, as redes sociais, sempre sedentas de novas polémicas, encontraram estes dias mais uma vítima.

Desta vez, o alvo de todas as críticas é a Joana Vasconcelos, a artista plástica conhecida, entre outras criações sempre originais, por ter criado um candelabro com tampões higiénicos (!). Num vídeo (ver aqui) que está a ser partilhado em massa no Facebook (por mim incluída), ouve-se a artista a responder, quando lhe perguntam, no âmbito duma campanha de sensibilização para os refugiados, o que levaria numa mochila se tivesse que deixar tudo e partir para longe da guerra, que levaria "(...) o meu iPad (...), os meus óculos de sol, todas as minhas jóias (...), as lãs e a agulha para qualquer eventualidade e o meu iPhone, para comunicar com o mundo". (Nota: não há referência a tampões, mas deve tê-los usado todos no candelabro.)

Claro que está a cair-lhe tudo em cima por responder com artigos apelidados de fúteis, luxuosos e afastados da realidade. Os argumentos utilizados pelos críticos são mais que muitos. Porque é uma snob. Porque é uma ridícula que deve querer o iPhone para tirar fotos às bombas e à miséria por onde passa. Porque isto não é o centro de desemprego para se ir fazer crochê. Porque devia era ser dada como alimento aos refugiados. Porque deve achar que vai encontrar tomadas para carregar o iPad e o iPhone. Porque isto não são férias para ir de jóias e óculos de sol. Porque, porque. Ora bem....

Quando ouvi o vídeo a primeira vez confesso que também fiquei um bocadinho chocada. É simples: pensamos em refugiados e depois ouvimos falar em jóias, soa mal! Disse também para mim - "Olha que mulher fútil! Jóias e telemóvel?" Só que depois comecei a ler os comentários e, aos poucos, caí em mim. "Espera aí... estou aqui armada em boazinha e sentimental, mas se fosse eu levava o quê?". E o que é certo é que, quanto mais pensava na pergunta, mais me apercebia do difícil que era dar uma resposta. Primeiro, pensei em bens essenciais como alimentos, roupa básica e bens sentimentais, como fotografias. Mas depois...

Depois concluí, envergonhada, que quase todas as fotografias mais importantes da minha vida estão... no meu iPhone! Tal como os meus contactos pessoais e profissionais, vídeos, e-mails, as minhas notas pessoais... A minha vida está toda no meu telemóvel! E vamos ser francos: quem é que conseguiria deixar o telemóvel em casa com todo esse conteúdo quando tivesse que procurar nova casa e nova vida? Mesmo que fosse desligado, sem bateria e sem wifi ou roaming até ao destino, o que é certo é que iríamos querer levá-lo connosco! O mesmo se passa com o iPad,

Quanto às jóias... quem é que conseguia deixar para trás a aliança, o anel do pedido de casamento, a medalha com o nome do filho, o colar preferido, aquela pulseira... sei lá, é assim tão estranho querermos levar os nossos artigos mais estimados? Para além do mais, íamos deixar artigos de valor para trás porquê? Para virem outros e ficarem com eles?

E as agulhas e as malhas... Se a Joana faz disso profissão e adora o que faz, acho normalíssimo querer levar. Eu preferia levar livros ou cadernos para ir escrevendo, mas isso sou eu, que não sei fazer candelabros e outras cenas esquisitas com agulhas e malhas.

A verdade é que é fácil atacar, é fácil ir na corrente, é fácil chamar fútil ou superficial. Mas acredito que, se, em vez de criticarmos, pensarmos primeiro na nossa resposta mais sincera à mesma pergunta, acabamos a meter a viola ao saco. A conclusão a que chego é que talvez esta ação de sensibilização simplesmente não faça muito sentido...

Entretanto, por falar em polémicas, vamos lá continuar a debater as bofetadas do nosso ministro da Cultura? Qual deles?, perguntam vocês sempre pertinentes. O atual. Mas realmente parece que os ministros da Cultura do PS andam muito dados às bofetadas... #piadafacil

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