quarta-feira, 20 de abril de 2016

Quando a mãe enlouquece

Há dias em que é extremamente fácil. Todos os passos são tão simples como respirar e não custa nada. Acordar. Dar de mamar. Tomar banho. Vestir-me. Tomar o pequeno-almoço. Às vezes saltar o banho e ir de pijama para a cozinha. Ver um bocado de televisão. Espreitar o Facebook e o Instagram. Ler alguns artigos. Dar o leite à Constança. Dar-lhe banho. Por-lhe creme. Vesti-la. Secar-lhe o cabelo. Arrumar os quartos. Preparar a casa-de-banho e a banheira para o banho do bebé. Dar-lhe banho. Tentar salvá-lo das investidas da Constança, que quer brincar com ele e enfiar-se na banheira. Ou atirar-lhe os patos de borracha para a água. Secá-lo. Por-lhe creme. Vesti-lo. Arrumar a casa-de-banho. Quando a empregada está, posso voltar a concentrar-me nos bebés. Ligar a alguém. Ou sair de casa. Posso almoçar. As tarefas domésticas estão asseguradas e posso ser mãe, apenas. Há dias em que a licença de maternidade é uma dádiva. E ter alguém que me ajuda em casa é essencial nesta equação.

Mas há dias em que tudo é um caos. Fiquei uma semana sem empregada e terminei a sentir admiração por todas as mães a tempo inteiro, sem ajuda. Sobrevivi à experiência, mas não sei como! A dada altura, era eu a trocar uma fralda ao bebé e ele a esguichar xixi por todo o lado, a Constança a brincar com as pastilhas da máquina de lavar a loiça, a sopa ao lume a ferver e a saltar tacho fora, o bebé a chorar porque estava molhado, a Constança com uma faca na mão e demasiado perto do fogão ligado, o bebé a chorar ainda mais alto, o telefone do trabalho a tocar... Geri o caos dia após dia, sempre a tentar manter a sanidade mental, a arrumação da casa, a minha higiene e cuidados de beleza mínimos em dia, e ainda a educação da minha filha - vamos desenhar? queres ler este livro? olha este puzzle! vamos contar até 10? Mas estive perto da loucura, muito muito perto!

Em teoria é possível fazer tudo. Ficar em casa com uma filha de quase 2 anos e um recém-nascido? Canja! Cansativo é ir trabalhar! Que sorte ficar em casa, a ler, a ver televisão... Só que não!! Houve um momento em particular em que senti que estava mesmo a atingir o meu limite. Chorava o bebé. Chorava a Constança. E comecei a chorar eu também, não sei se de cansaço, se de frustração. À minha volta, roupa por passar a ferro. Loiça por lavar. O chão por aspirar. Não! Percebi que, ao lado disto, qualquer trabalho é para meninos! Sem ajuda, não conseguiria estar à altura do desafio e manter-me mentalmente sã por muito mais tempo. Adoro os meus bebés, mas o meu trabalho não é nada quando comparado com o trabalho que uma casa com duas crianças dá! Foi, por isso, uma mãe pálida, com o cabelo oleoso, olheiras até ao chão, unhas descascadas e a soluçar que chegou ao final da semana. É duro. A minha vénia a todas as mães corajosas que decidiram ser mães a tempo inteiro e conseguem desempenhar este papel de forma graciosa e tranquila. Sem enlouquecer.

4 comentários:

  1. Anónimo09:22

    Obrigada por esse post. É que eu sou mãe de dois de idades próximas, tal como tu, e passo por isso desde que o mais velho, que vai fazer 3 anos, nasceu. Fui eu quem deixou um comentário num dos teus posts a dizer que ter uma empregada ajuda muito. Não foi por mal, mas às vezes há retratos tão cor de rosa da maternidade que eu fico a pensar que eu é que estou a falhar por não conseguir gerir tudo como desejaria: casa, trabalho, jantares, banhos, roupas...sem qualquer ajuda, só a do meu marido, mas que é pouca porque trabalha imenso. É maravilhoso ser mãe de dois, mas muito desgastante nos primeiros anos de vida.
    Adoro o teu blog. Bjs

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  2. É tão verdade! E é daquelas coisas que só nos apercebemos quando passamos por elas.

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  3. Nunca tive empregada, de modos que sempre tive que me desenrascar sozinha. E apesar de tudo o que dizes ser verdade, eu trocava, se pudesse, o meu trabalho, para ser mãe a tempo inteiro (já passei pela experiência). É que, actualmente, tenho que fazer tudo isso e trabalhar. É correr, correr, correr. Trabalho, casa, ginásio, família, tarefas domésticas. SEMPRE a correr. Sem pausas. Preferia TANTO ter que fazer tudo isso sem o trabalho à mistura ;)

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  4. Mãe de dois um de 3 anos e um de 1 ano. Este primeiro ano como mamã de dois está a ser a loucura. Não tenho empregada e se não fosse a minha mãe estava louca!

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