quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Dentro do segredo

O número de livros que li nos últimos tempos diminuiu drasticamente. Poderia culpar o trabalho, que me absorve grande parte do tempo. Poderia culpar o facto de ter uma filha pequena, que absorve outra grande parte do tempo. Poderia culpar o meu pequeno drama doméstico de ter um marido que não adora que acenda a luz da mesinha de cabeceira até de madrugada. Poderia culpar as histórias, que andam menos interessantes e que me cativam menos. Poderia culpar muitos fatores. Mas nenhum seria "a" resposta para a diminuição das minhas leituras. A verdade é que ando a ler menos por uma simples razão: preguiça. Preguiça. Não adianta vir com rodeios. Quem quer, lê. Quem quer, faz. Ponto. E eu andei a ler menos porque fui preguiçosa, mas ando a mudar isto.

Nos últimos tempos, além de retomar alguns clássicos, como o "1984" ou o "Admirável Mundo Novo", que são sempre bons de de reler, acabei um livro que, por acaso, até era da minha sogra: o "Dentro do Segredo", do José Luís Peixoto, e que relata a viagem do escritor à Coreia do Norte. A minha sogra comentou comigo alguns trechos e fiquei tão, mas tão curiosa, que logo nesse dia agarrei no livro (com a autorização dela, claro está) e comecei a ler. Sem conseguir parar. Adoro livro de viagens. Transportam-nos para outro lugar e fazem-nos viajar quilómetros, sem mexer o rabo. Mas este livro não é um livro de viagens. Também não é um livro sobre a História da Coreia do Norte, que se limite a descrever datas e números. Este livro é um livro sobre a Coreia do Norte aos olhos de alguém que podíamos ser nós. Este livro é um diário intimista de alguém que interpreta e descreve a Coreia do Norte, como um amigo que nos conta a sua mais recente viagem, num dia de inverno, enquanto seguramos uma chávena de chá quente nas mãos. Não conheço o José Luís Peixoto, mas depois de ter lido o livro, sinto que viajei com ele e vivemos esta aventura juntos. Ri-me com os comentários, ainda que contidos, às descrições dos guias que os acompanharam. Ri-me com as encenações feitas nas visitas às fábricas, aos supermercados, aos museus e ao laboratório. Partilhei do cansaço nas viagens infindáveis de autocarro. Partilhei da dúvida generalizada face ao que se ia vendo. Vivi, como se fosse minha, a angústia de não ter telemóvel. De só ter um canal de televisão em todo o lado. De todas as regras e proibições. Cansei-me de ouvir falar dos Líderes. Mas foi uma bela viagem. E hei-de ler mais, muito mais, do José Luís Peixoto. Só tive pena de só agora o/nos ter/termos conhecido.

4 comentários:

  1. É um escritor maravilhoso.. Adorei o Cemitério de Pianos! Fica a dica.. ;)

    ResponderEliminar
  2. Nunca li nada dele, já me disseram que pode não ser de fácil leitura...

    ResponderEliminar
  3. Foi dos poucos escritores que tive o prazer de conhecer pessoalmente, após ter lido e adorado toda a bibliografia dele à data... E senti que foi como voltar a ver um velho amigo.
    A forma como ele escreve revela muito daquilo que ele é e, apesar de não tão pessoais, acho todos os livros dele deliciosos!

    ResponderEliminar
  4. Foi dos poucos escritores que tive o prazer de conhecer pessoalmente, após ter lido e adorado toda a bibliografia dele à data... E senti que foi como voltar a ver um velho amigo.
    A forma como ele escreve revela muito daquilo que ele é e, apesar de não tão pessoais, acho todos os livros dele deliciosos!

    ResponderEliminar