Hoje à hora de almoço decidi ir ao ginásio. Fui ao
site espreitar o mapa de aulas e vi que havia pilates. Não sou muito de aulas de grupo, mas costumo gostar de pilates e de todas as aulas que envolvam alongamentos e conhecer, basicamente, os limites ao nível do contorcionismo do corpo. No final da manhã, ainda no trabalho, comecei a ativar o modo "zen", depois peguei nas coisas, meti-me no carro, pus uma música mais calma e fui para o ginásio. Quando lá cheguei tive, no entanto, uma surpresa.
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Pode dizer-me em que sala é a aula de pilates?, perguntei ao rapaz da receção.
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Hmm... pois... vinha à aula de pilates? É que o novo mapa de aulas só entra em vigor na 5a. Hoje só há cycling, a esta hora, e hidroginástica. Por que não experimenta a aula de cycling? Dizem que é muito boa, os alunos adoram.
- Não sei, vinha mesmo a contar com o pilates...
- Experimente. Vai adorar, a sério.
E fiz aquilo que nunca se deve fazer: receber um conselho dum estranho. Pior que isso: acatar um conselho dum estranho. Mas aquele rapaz, que nunca me tinha visto na vida antes, faz ideia do que eu gosto ou não gosto? Aquele rapaz faz ideia do que eu vou
adorar? Pois passado 50 minutos eu tinha uma dor gigante nas coxas e um coração a mil a gritarem-me
"Claro que não! Burraaa!!".
Fui fazer a aula. Eu devia ter percebido logo desde o início que não estava no meu ambiente: toda a gente já estava sentada, com ar compenetrado, e devidamente equipada com fatos de ciclista dignos da Volta a França (eles) e
bodies justos, decotados e berrantes, a exibir a boa forma física e o bronze do verão (elas). Devia ter percebido que não estava em terreno de amadores e devia ter fugido logo. Enquanto escrevo isto, com as pernas e os braços ainda a tremer, apetece-me bater com a cabeça na secretária.
Bur-ra! Mas ali fiquei. A música começou e a professora logo explicou que era tempo de tratar de inverter os erros das férias. Íamos voltar à forma. Apeteceu-me gritar
"Calma que eu nunca estive em forma nisto do cycling!!", mas vi os outros a acenarem e fiz o mesmo, como quem diz
"claro, força com isso". A pressão do grupo é tramada. A música não deu tempo para respirar. Não sei que cd era aquele, nem como apelidar o estilo de música, mas pela batida acelerada diria que seria humanamente impossível, para mim, acompanhar aquilo com passos de dança dignos desse nome.
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Vai começar a montanhaaaaa! Toca a aumentar a carga!!
E assim fui apresentada ao mote da aula. Tenho ideia que aquela frase foi repetida tantas vezes como o número de batidas da música, mas talvez seja um pouco exagerado, pensando bem.
A partir daí, não parámos de subir montanhas. Cada uma mais alta que a outra. Tínhamos que subir parte com o rabo empinado no ar e só podíamos descansar no assento quando estivéssemos mesmo de rastos (sendo que o descanso no assento era demoníaco, porque aquele assento faz doer o rabo como tudo!!). Obviamente que me sentia sempre de rastos, mas quis manter alguma postura e tentei ir quase sempre com o rabo no ar também. Maldita decisão. Sinto que subi três vezes a Serra do Marão em bicicleta. Não tenho a certeza de já conseguir sentir o rabo. Não sei bem como é que os homens aguentam aquele assento entre as virilhas, com os todos os extra que têm, comparando com as mulheres. Tenho os braços e pernas a tremer. O coração ainda não acalmou. E acho que vou ter pesadelos com montanhas nos próximos dias.
Só posso concluir uma coisa:
cycling é completamente demoníaco. E enquanto me lembrar disto, ninguém me vê sentada num assento duro, que me magoa as virilhas e as nádegas, a pedalar a 200km/h e a subir montanhas imaginárias, com o coração a saltar da boca. Parabéns a todos os que conseguem, têm o meu maior respeito e consideração, boas montanhas a todos, mas eu não sou, definitivamente, uma dessas pessoas.