No meu caso, sempre acreditei que a minha relação melhorava alguns pontos menos positivos em mim: (pouca) pontualidade, (pouco) sentido prático e (demasiado) otimismo e atitude sonhadora. A nossa relação sempre funcionou com base nessa dinâmica: ele mais pontual, a puxar para que eu chegasse a horas; eu mais relaxada, a fazê-lo descontrair mais; ele mais prático, a tornar-me menos idealista; eu a fazê-lo rir em momentos de stress, etc, etc. E quando a dinâmica muda?
A semana passada, no entanto, algo aconteceu. Primeiro, ele esqueceu-se da carteira em casa. Sim, ele, o responsável. Depois, esqueceu-se da password do portal das finanças. Sim, ele, o certinho. Foi algo inédito. Seguido de mais algo inédito. E nem parecia muito preocupado, dizia que tudo se resolvia. Eu dei por mim irritadíssima. Dei por mim a achar aquilo tudo inadmissível, porque estava distraído, porque tínhamos que ser responsáveis, porque o prazo para a entrega da Declaração Modelo 3 de IRS estava a terminar, porque tínhamos que ser cautelosos, porque tínhamos o prazo para cumprir, porque não podíamos relaxar, porque aquilo era sério... Até que reparei que tínhamos trocado de posições: sim, ele estava a ser... eu. Tinha-se tornado em mim. Eu estava a ser... ele. E que a nossa relação não funcionava assim, não era esta a nossa dinâmica, por isso é que eu estava tão irritada. Mas o que é que foi o pior no meio disto tudo? É que, pela primeira vez, tive uma visão do que podia ser eu, às vezes. Tive uma visão do que seria viver com alguém que parece sempre relaxado (mesmo quando não estou), que parece sempre otimista, e a quem falta por vezes o sentido prático. Tive essa visão. E o pior mesmo? É que odiei. Acabei o dia a jurar a mim mesma que iria tentar melhorar estes pontos todos em mim e tornar-me para sempre uma pessoa mais prática, responsável e realista. Porque a dinâmica da relação até pode funcionar assim, com ele a puxar pelo melhor de mim, mas porque não hei-de eu puxar pelo melhor de mim, de uma vez por todas? Quero acreditar que é possível. (Vamos ver quanto tempo é que esta resolução dura, mas adiante...)
O difícil das relações é saber lidar com essa dinâmica da melhor maneira! Se nos adaptarmos bem ao outro tudo corre bem!
ResponderEliminar