Para os que me perguntaram pela experiência na última Quarta-feira, no estádio, só tenho a dizer que até correu bem. A bebé decidiu ouvir os meus apelos e não nascer no meio da euforia, e não houve grandes confusões. O pior foi mesmo a parte que antecedeu o jogo. Saí do trabalho, ia meter-me num táxi... Liguei-lhe para combinarmos:
- Vou agora chamar um táxi e encontramo-nos aí à porta, ok?
- De táxi? Porquê de táxi?
- Porque de metro deve estar impossível. Deve haver imensa gente aos encontrões, não achas?
- Hmm... Não, acho que não. Ainda há bocado estava calminho. No teu lugar vinha de metro, deve estar menos confusão. De táxi vais apanhar imenso trânsito, de certeza... Está tudo parado aqui à volta do estádio...
Senti que estava a ser demasiado princesa, com medo de algo que não fazia sentido. Não quis dar parte de fraca, por isso, lá me meti no metro, direta do trabalho, vestida demasiado formal para aquilo que um jogo de futebol exigia e com a minha barriga do tamanho duma bola de basquete. Quando cheguei à paragem, percebi que tinha exagerado - não estava praticamente ninguém. Suspirei de alívio.
Só que, de repente, começa a chegar gente de todos os lados. E não paravam de chegar. "Ups", pensei, "já fui". Lá me agarrei instintivamente à barriga e meti-me na primeira carruagem que abriu. Que confusão que para ali ia... Aguentei as paragens todas de pé, estoicamente, entalada entre benfiquistas loucos, até ao Alto dos Moinhos. Saltei da carruagem nem sei como. Respirei de alívio por estar intacta e sem ter levado encontrões no meio daquela gente toda. Lá estava ele sorridente à minha espera. Mas eu estava um bocado irritada.
- És mais maluco que eu. És definitivamente mais maluco que eu. És louco.
- Sou louco porquê?
- Eu sou relaxada, mas tu és doido.
- Porquê...? Estava assim tanta gente no metro?
- Estava!! Olha à tua volta... És maluco. Só é suposto haver uma pessoa relaxada por casal. Dois é demais....
- Oh... Ok, a partir de agora assumo o papel de preocupado. Queres? Preferes que seja assim?
- Sim. Não podemos ser os dois calmos demais. Nem é saudável para a bebé. É de loucos. Eu já quis vir ao jogo, mas depois devias cortar-me as asas nas outras ideias todas mais perigosas, como andar de metro em dia de jogo com uma gravidez já no fim...
Ele acenou que sim, muito compenetrado, sem responder. E percebi que levou aquilo mesmo a sério, porque entrámos no estádio com ele sempre a proteger-me a barriga. Não me queria deixar subir escadas. Insistiu em procurar um elevador. Perguntou se precisava de ir à casa-de-banho. Se queria comer alguma coisa. Se queria beber. Se estava bem. Obrigou-me a sentar. Festinha no cabelo. Olhar paternal.
"Ok", pensei, ao fim de menos de cinco minutos, "já chega"...
Não, definitivamente acredito que podem haver duas pessoas relaxadas num casal. E ainda bem que temos sido os dois assim ao longo de toda a gravidez. Estamos os dois tranquilos e mais relaxados que nunca. Não sei se as hormonas funcionam como drogas, mas juro que me sinto nas nuvens há meses. Sem grandes preocupações ou stresses. Ando feliz como não me lembrava. E, pronto, amanhã lá vamos outra vez. Uma grávida quase a explodir a vibrar no meio de milhares de pessoas e outro maluco ao lado a achar a ideia normal e nada censurável. Se somos malucos? Gosto de pensar que não. Que há mais como nós. E amanhã hei-de contar todas as grávidas com que me deparar no jogo. Entretanto, uma Páscoa bem doce e feliz para todos!!
(Podia fazer trocadilhos com Jesus e a Páscoa, mas seria demasiado básico e não me parece bem misturar os temas...)