terça-feira, 7 de outubro de 2014

Então e a primeira noite longe?

A fotografia (com cabeça, claro) foi tirada no final da primeira noite longe e enviada aos dois com a mensagem de boa noite. As tecnologias permitem-nos sentir mais perto de quem está do outro lado. Podemos partilhar fotografias em tempo real. Podemos ligar em FaceTime e ver o que o outro está a fazer, mesmo estando a mil quilómetros. As tecnologias encurtam distâncias, é um facto. Mas... o longe continua a ser sempre longe. E nenhuma tecnologia me permitiu dar um beijinho de boa noite à minha filha e adormece-la junto a mim. Por isso, mesmo com toda a tecnologia existente, a minha primeira noite fora sem a bebé foi... terrível.

Já desconfiava, mas as piores previsões confirmaram-se. Desconfio que há algo, depois de se ter um bebé, que muda dentro de nós. Não é só emocional, é físico. Há algo visceral que muda e temo que nunca mais nada vá ser igual. Criei uma vida dentro de mim durante nove meses. Em maio, essa vida ganhou autonomia. Mas, pelos vistos, só aparentemente. Cortaram o cordão umbilical, mas algo ficou. Será que é apenas feitio meu? Será apenas a minha maneira de ser? O que sei é que, quatro meses e meio depois, tinha uma ténue esperança que passar 24 horas longe da minha bebé pudesse ser relativamente fácil. Mas não foi. Nada. Estava longe, mas pensava nela a todo o momento. Falei nela sempre que pude. Fiz tudo o que vem no Manual das Mães Chatas. Mostrei fotos. Mandei mil mensagens para casa ("estás a tratá-la bem??") e recebi respostas à altura ("não, estou há duas horas a bater-lhe com uma vassoura!"). Liguei dez mil vezes. E fui dormir a sentir-me tão sozinha como há muito não acontecia. Deitei-me e tentei não pensar em nada. Só queria adormecer, para o tempo passar mais rápido. Acordei às seis da manhã com uma angústia estranha e nova. Era um tipo de saudades que ainda não conhecia. Quando pude vir embora, meti-me no carro e percorri novamente os quilómetros que me separavam de casa o mais rápido que consegui (a rezar para não apanhar multas no caminho).

Quando voltei a entrar em casa, apenas 24 horas depois de ter saído, parecia que tinha passado uma semana. Passei à frente os beijinhos e perguntei logo pela bebé, tamanha era a ansiedade. Pelos vistos estava no quarto, na caminha. Estava animada e tinha dormido bem. Tinha bebido do biberão sem se queixar. Esperava um cenário mais dramático, mas pelos vistos, a minha filha estava divertida como se nada se tivesse passado. Aproximei-me, com o coração aos saltos. Espreitei por cima das grades. Estava acordada. Cumprimentei-a com um "olá" que me saiu mais estridente e agudo do que queria. Sorriu, a olhar para mim. Rasgou o olhar, com os olhos cheios de brilho. E começou a dar pontapés no ar, em sinal de excitação. Houve umas lagrimitas que quiseram aparecer. Só que não foram dela... Portou-se melhor que eu. Sim, a primeira noite longe foi má. Muito má. Mas para mim. A minha bebé estava feliz como sempre. Sorridente. Aparentemente sem tantas saudades como a mãe chata. Desconfio que estas coisas são sempre piores para nós que para eles. E ainda bem. Que seja sempre assim.

4 comentários:

  1. Vês, vês, oh sua mãe galinha :P

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  2. Ana Beleza18:58

    Sou igual! Há 11 meses que sou mãe e desde então que tudo mudou (para muito melhor!). Podemos perder como mulheres mas ganhamos como mães. E no fim importa estarmos felizes com a nossa escolha.

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  3. É um horror... no meu caso passaram 20 meses e rezo para não ter de oltar a dormir longe dele. Ainda que só tenha acontecido uma vez, é demasiado doloroso.

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  4. Pensava que era só eu que era assim com os meus pequenos!

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