quinta-feira, 1 de maio de 2014

Emoções à flor da pele

Com tantas emoções nos últimos dias, só posso concluir que esta minha filha é uma verdadeira santa por continuar serenamente na sua pacata vida, a brincar com o meu cordão umbilical, a fazer bolinhas com o líquido amniótico, a exercitar-se algumas vezes por dia, principalmente às duas da manhã... Podia chatear-se por lhe ter calhado na rifa uma mãe que não tem parado, sempre dum lado para o outro, com a mania que pode continuar a trabalhar, a fazer viagens, a nadar e até a fazer mudanças, mas a verdade é que tenho a leve suspeita que ela até tem apreciado, porque às trinta e oito semanas continua a aproveitar o hotel-com-tudo-incluído que é a minha barriga e ainda não quis sair de lá. Palpita-me que vai desfrutar da estadia enquanto puder. E faz ela muito bem.

É que a verdade é que os últimos dias têm realmente sido uma maré de emoções. Primeiro, foi o meu carro. No meio das mil arrumações (ainda por concluir) que fizemos, as únicas chaves do meu carro desapareceram. Já não bastava ter ficado sem bateria há tempos, agora não havia chaves sequer para o abrir. O carro estava à porta de casa, mas a servir de decoração, porque não servia para nada. Eu já trepava paredes e percorria repetidamente os confins da minha memória a tentar descobrir a ultima vez que as tinha visto. De nada servia... Depois, foi a vez de ele me ligar "não vais acreditar, estou parado no meio da auto-estrada à espera do reboque, tive um problema com o carro". Isto nunca aconteceu. Nunca. Subitamente, estávamos os dois sem carro pela primeira vez... E sem saber quando íamos voltar a ter. O carro dele teve que ir para a oficina, com o ovo da bebé atrás, e sem sabermos muito bem como íamos resolver a situação nos próximos tempos. No meio disto tudo, tive consulta e ouvi o médico comentar "faz muito bem continuar com a vida ativa, viagens e natação, mas assim são só uns dias até à bebé decidir nascer, está a acelerar o processo". E saber que estamos quase a entrar em trabalho de parto ao mesmo tempo que ficamos os dois sem carro é um verdadeiro filme de terror! Felizmente, depois de virarmos tudo de pernas para o ar, as minhas chaves finalmente apareceram... e ironicamente estavam no carro dele. Acho que foi só um susto para animar os dias... Mas, Senhor barbudo aí em cima, já chega, sim? Já animámos para os próximos anos!

Entretanto, a minha pulguinha, afilhada que ainda há dias era uma bebé, loirinha e com grandes e expressivos olhos, festejou ontem os 18 anos, está uma mulher. E... para que a semana não ficasse subitamente sem emoções fortes, o Benfica lá nos quis deixar sem voz ontem durante mais de cem minutos (noventa mais aquela compensação interminável) de jogo. Tentei manter-me calma, mas foi verdadeiro sofrimento até ao fim. Lá ganhámos. Só espero que hoje os vizinhos não se queixem dos gritos. Com sorte também são benfiquistas...

Entretanto, a ansiedade aumenta de dia para dia. E sei que, no meio destas emoções todas, "a" emoção, a verdadeira, está ainda por chegar. A curiosidade é maior em cada dia. O desejo de a agarrar e beijar, e beijar, e beijar, e a encostar junto a mim, é quase insuportável. "Vamos conhecer a nossa junção. Vamos ver o resultado de juntarmos parte de mim a parte de ti. A nossa filha. Podemos acabar com as amizades, com os empregos, até podemos acabar com um casamento. Mas já viste...? Esta filha vai ser parte de nós para sempre", dizia-me ele ontem, talvez ainda fruto de tanta emoção... Sim... No fundo, sei que esta semana não foi nada. A verdadeira emoção está prestes a chegar.

2 comentários:

  1. Tu nem fazes ideia a emoção que é :)
    É mágico e único na nossa vida!
    O dia em que a minha filha nasceu foi o melhor da minha vida, de longe. Foi lindo :)

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  2. É lindo ser mãe. Mas é um pedaço do inferno também. Ontem escrevi isto sobre as minhas filhas:Ó mãe olha o que eu faço, ó mãe olha o que eu fiz, ó mãe olha este salto, ó mãe olha esta mancha no chão, ó mãe olha aquele cocó de cão, olha, olha, olha. Cerca de meio milhão de vezes por dia. Nunca vi seres tão necessitados que lhes lambessem a auto-estima.
    Hormonas assassinas, revirar de olhos, murmurar frases de impaciência entredentes, todos os dias a todo o momento. Criancinhas de 11 anos, ai que bom.
    Desequilíbrio físico, muito gostas tu de levar as minhas crias ao chão. Andar de costas sem ver se há degraus ou pessoas a passar? Caminhar como se as paredes não estivessem lá? Ó mãeeeeeeeeee, buáááááaááá, magoei-meeeeeeeeee. E a minha vontade é mandar-lhes mais um sopapo no sítio onde se magoaram, só para ver se aprendem a olhar, burras.
    As unhas e a terra. E os joelhos. E atrás das orelhas. E o rabo. E o sovaco. E os pés. Mesmo depois do banho. Está incrustrado. A mais vasta panóplia de cheiros que jamais atingiu o meu nariz, já dizia Shakespeare.
    Vivo numa espécie de kibutz. O que é meu é delas. O meu almoço, o meu bolo, o meu carro, o meu rimmel, o meu sumo, tudo é delas também. E o que vai volta sempre estragado, roto, partido, gasto, manchado e bom para ir para o lixo.
    Eu quero, eu quero, eu quero, eu quero. Sabem desde o dia 0 pronunciar esta porra desta frase. E querem tudo. E tudo o que é caro, barato, bonito, feio, bom, mau, o que importa é ter. Mesmo que seja rasgar o papel e perder em 2 segundos. Ter. Possuir. Meu. My precious.
    Snif, é que tu NUNCA me deixas ir dormir a casa da X, é que tu NUNCA me dás um gelado, é que tu NUNCA me ofereces nada, é que tu NUNCA nos permites saltar da ponte, é que tu NUNCA. Eu nunca. Eu nunca nada. Eu sou um ser cortador de asas e imaginações que retenho o poder de as traumatizar com os meus sempiternos NÃOS.
    Weee, weee, weee, dói-me a barriga, o pé, a mão, o dedo, a língua, a córnea, a bexiga, o baço, o fio de cabelo, o brinco, o sapato, o tudo. Crianças são hipocondríacas. Ou apenas chatas como o camandro (ou será uma forma maquiavélica de voltar ao ponto 1 ó mãe olha para mim?)
    Competição entre irmãos. É meuuuuuuuuu, ela tirou-meeeee, ela bateu-mmee, se ela tem eu também queroooooooooo. Mesmo que seja uma folha de papel. Higiénico. Usado.

    E é assim o meu dia-a-dia. Muito fixe :)

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