sexta-feira, 14 de março de 2014

Cuidado: amor em excesso

Dum dia para o outro, o tempo lá fora melhorou – “olá, Sol! olá, calor!!” –, mas as redes sociais foram invadidas por dilúvios de lágrimas e vagas perigosas de raiva e desilusão. O que esteve na origem de tanta revolta? Este vídeo.
As pessoas sentiam-se enganadas. Desiludidas. Tinham acreditado que era amor verdadeiro que estava ali a acontecer. Tinham sorrido e accionado o lado romântico de si. E tudo tinha sido em vão... Afinal, o vídeo era apenas uma publicidade a uma marca de roupa.

Recuando no tempo, apenas um dia antes, abria-se o Facebook e mal se conseguia ler alguma coisa no meio dum mar de lágrimas de emoção e vendavais de “ohhhhhh” fofinhos. Pessoas que não se conheciam de lado nenhum desatavam aos beijos. Bizarro? Promiscuidade pura? Seria, se fosse no meio da rua e entre gente comum e de ar deslavado. Seria, se fosse na Casa dos Segredos. Seria, se não tivesse esta música de fundo. Seria, se os desconhecidos tivessem um aspeto mais duvidoso. Mas o vídeo pegou em pessoas magras e com bom aspeto, pessoas com ar “cool”. Ah, o vídeo juntou também casais hetero e homossexuais, por isso, mais “cool” era impossível. Além disso, todos os desconhecidos pareciam ter saído duma máquina de Photoshop humana e tinham o ar mais “beijável” e pronto-para-amar-mas-de-forma-envergonhada-e-socialmente-aceitável do mundo. O cenário “clean” e os olhares, primeiro envergonhados, apaixonados depois, fizeram o resto. Com aquela banda sonora e aqueles intervenientes, enfiar a língua na boca dum perfeito desconhecido tornou-se algo normal. Eu própria dei por mim feliz por estar a ver o filme em casa, já de pijama, e sem desconhecidos por perto, pois, caso contrário, acredito que teria rapidamente partido em busca de uma vítima desprevenida, de língua em riste. Felizmente, nada aconteceu e fui dormir. Mas acredito que muitos beijos na rua, no metro, nos autocarros, na Segurança Social, nas Finanças, nos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras, e até nas Lojas do Cidadão, se terão trocado nos últimos dias, fruto da visualização do tal vídeo.

Só que… ah pois... o vídeo era mentira. Os beijadores eram, afinal, atores contratados para fins publicitários.

Hmmm... Que estranho, não é? Ou não… Mas então alguém acreditou naquilo? Alguém acreditou que, de repente, pessoas que não se conhecem de lado algum, se beijariam assim de forma apaixonada e entregue em frente a câmaras? Sou romântica e até eu aprendi que o amor não acontece assim. O amor acontece nas entrelinhas dos olhares e das palavras. O amor acontece num beijo adiado. Não num beijo precipitado. Cuidado com as doses excessivas de amor. Geralmente são só para as câmaras. Sejam de filmar ou fotografar. O amor real encontra-se é nos intervalos do tal "click".

1 comentário:

  1. Não acreditei naquilo como se de repente o amor surgisse tipo cupido, claro que não. No meu caso simplesmente achei que era uma experiência de uma fotógrafa, alguém que tinha sugerido simplesmente filmar estranhos a beijarem-se pela primeira vez. Porque não? Há tantas experiências do estilo. Muita gente seria capaz de o fazer: Muita gente o faz: beijar estranhos. Isso não seria amor :) Fiquei a saber aqui quer era para uma marca de roupa. Bom, ganha a publicidade então.

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