segunda-feira, 31 de março de 2014

Juro.

Juro que queria voltar a escrever aqui diariamente como antes e até postar duas ou três ao dia.
Juro que continuo a pensar no blog todos os dias.
Juro que continuo com ideias e com imensa vontade de escrever.

Mas... juro também que nunca tive tanto trabalho como agora.
E juro que são neste momento 22 horas e desde que comecei a trabalhar, bem cedinho, só parei ainda uma hora para almoçar. Mais estes minutos para vos dar um "olá". E vou continuar ainda umas valentes horas...

Ah... E juro que quero muito abrandar.
Pela bebé.
Por mim.
Por vocês.
Só que não está nada fácil.

Lembram-se de ter pedido um colaborador aqui há uns tempos? Fi-lo na altura mais a brincar que outra coisa (desculpem a quem não respondi ainda, prometo que vou fazê-lo mal tenha uns minutos!!). Agora começo a repensar se não precisaria mesmo... Aii que isto de ser uma grávida trabalhadora até ao fim tem que se lhe diga... Como é que há mulheres que conseguem trabalhar, ter três ou quatro filhos e ainda ter tempo para serem mulheres, amigas, filhas...?... Preciso de saber o segredo. Urgentemente.

sábado, 29 de março de 2014

... Porque eu mereço

Hoje tinha que acordar às 6h, meter-me no comboio, fazer mais de 600kms, tinha prazos para cumprir, trabalho para entregar e até a chuva lá fora bem cedo não ajudava. Lá me meti no comboio, com o computador, a papelada e a mala debaixo do braço, a tentar perceber como é que já se via tanta gente na rua àquela hora...
- Vai tomar pequeno-almoço?
Olhei para a senhora que me fazia a pergunta e depois olhei para a carruagem do bar, a três carruagens daquela em que estava sentada. E olhei para a barriga, que me pareceu suplicar descanso.
- Quero, sim.
Paguei mais do que devia por uma amostra de pequeno-almoço só por mo levarem ao lugar e não ter que me deslocar para ir comprar, mas soube-me pela vida e ainda consegui dormitar um pouco. Quando cheguei ao destino, não quis saber de transportes públicos nem andar a pé. Que se lixe o ter que ser forte todos os dias, eu estava acordada desde as 6h e tinha 4 horas de sono em cima e um dia de cão pela frente. Chamei um táxi e pronto.

Balanço do dia? Muito dinheiro mal gasto, mas pelo menos sinto que minimizei o cansaço e dei-me(nos) os miminhos possíveis, dentro das condições possíveis. Desculpa, bebé. Prometo que nos próximos dias vou tentar descansar mais. Tens um mês e meio para aguentares aí dentro, ok? Já não falta muito. Eu vou tentar fazer tudo para que seja um mês e meio mais tranquilo que aquilo que tem sido. Temos o resto da vida para nos conhecermos, agora é esperar calmamente pelo dia do nosso encontro...

quinta-feira, 27 de março de 2014

Mostra-me a tua barriga, dir-te-ei quem és

Ando obcecada com barrigas. Normal no estado atual em que estou, certo? Antes de engravidar, andava obcecada com barrigas lisinhas e tonificadas. Depois, passei a reparar apenas em barrigas de grávida - "olha, de quantas semanas estará aquela?". E passei a analisar a minha quase diariamente: "não devia ter uma barriga maior, já?", "hoje a barriga não parece que encolheu?", "vês alguma estria aí do lado?", "não achas que a barriga cresceu muito este fim-de-semana?", "será que estou com a barriga grande demais para o tempo que ainda falta?", "o meu umbigo não está esquisito?", "o meu umbigo não parece que está a ganhar vida própria?". Sim. Tenho vivido um pouco voltada para o meu próprio umbigo, admito.

Só que desde há uma semana começaram a falar-me também da barriga na fase pós-parto e isso começou a assustar-me. "Olha que mesmo quando tiveres a bebé vais continuar com uma barriga de cinco meses", "olha que os órgãos estão todos fora do sítio e demoram a ir ao lugar", "sabes que nunca mais voltar a ter a minha tonicidade", "mentaliza-te para o pior", "prepara-te para este verão usares fato-de-banho". E outras frases tranquilizadoras. Resultado? Hoje sonhei que estava deitada e que de repente tentava pegar no lençol, mas este era feito de pele da minha barriga. A minha barriga estava tão flácida e elástica que me aquecia. Não é o sonho mais nojento de toda a história? Eu sabia que não devia ter visto o filme "O Ritual" sozinha à noite, com grávidas a serem exorcizadas, e sabia que não devia ter lido aquele artigo da Sábado sobre mulheres que abortam no fim da gestação. Sabia que ambos podiam causar pesadelos. Mas não sabia era que estes avisos sobre a barriga iam ter efeitos mais nocivos nos meus sonhos que qualquer exorcismo visto num filme. Sim, ando a ter os sonhos mais doidos de sempre... Tenho que voltar a concentrar-me em barrigas lisinhas e tonificadas ou barrigas lindas de grávidas, para ver se volto aos sonhos cor-de-rosa.

Balanço a mês e meio do dia "D" (esperemos)

Provas superadas:
1. Tenho conseguido colocar religiosamente creme para as estrias todos os dias de manhã e à noite. Para isso também ajudou ter recebido seis (!!) embalagens de cremes. A verdade é que tanto pedi que o Pai Natal foi generoso e há-de ajudar-me nesta luta inglória contra as malditas estrias. Até agora não vi nenhuma na barriga, ancas ou no peito, mas a verdade é que não tenho grande visão para as costas... Espero que não andem a tramar-me pela calada...
2. Zero dores, cansaço, problemas a dormir ou mudanças de humor.
3. Já fiz cinco sessões de massagens de drenagem linfática manual e hei-de continuar, a ver se não fico com troncos em vez das pernas. Para já, tudo normal.
4. Uso os meus anéis todos e calço tudo igual a sempre. Não houve alterações nas mãos ou pés, e até mantenho os saltos para trabalhar. Será por não estar muito calor? A ver vamos se se mantém assim. Entretanto, fui ao El Corte Ingles e muni-me de mini meias e collants de ligas de descanso, o mais forte que lá tinham. Os collants "normais" para grávida, com suporte para barriga, não faziam pressão nenhuma nas pernas e desisti de os usar. Estes, duma marca que só se vende lá, são tão fortes que quando os calço sinto anjinhos invisíveis a massajarem-me as pernas. Acho que não vai fazer inchaço que lhes ganhe.
5. Tenho conseguido ir ao ginásio regularmente, embora agora só nade. Sabe-me sempre vida e é terapêutico, por isso, nem voltei a por os pés nas máquinas. Tenho nadado meia hora non stop, a fazer basicamente bruços. Espero que a Cookie goste tanto como eu.
6. Já temos o berço, carrinho (optámos pelo Bugaboo Cameleon com tecido bege clarinho, mas ando de olho numas edições especiais lindas lindas lindas e super femininas), alcofa, mais conjuntinhos, mantinhas e ate babetes. As coisas andam a compor-se...
7. Ando a ler "O bebé mais feliz do mundo", do pediatra Harvey Karp (obrigada, R.!!) para ver se domino as técnicas todas para parar o choro. O livro tem teorias um pouco excêntricas, mas se resultarem... quem sou eu para duvidar?
8. Os movimentos da barriga são agora tão fortes que é possível assistir em primeira fila. Ele é braços, ele é pernas. A barriga mexe-se duma forma incrível e já vi a minha mana a ficar emocionada com o espetáculo. Realmente é a maior ligação que a minha filha pode ter com o exterior, para já...
9. A roupa continua a servir quase toda, o que é bom porque não precisei de comprar roupa de grávida. Os casacos não apertam e as calças justas não servem, mas tenho conseguido adaptar o anterior guarda-roupa.
10. A bebé já se virou de barriga para baixo.
11. Começámos a fazer o curso de preparação para o parto.
12. Continuo sem medo do parto e apenas ansiosa de a ter nos braços.
13. Voltei a sonhar com ela e é sempre parecida comigo em bebé. Futurologia ou egocentrismo??

Provas não superadas:
1. Não tenho dormido tantas horas como devia. Continuo a ir para a cama tarde e a más horas.
2. Apesar de ter um plano alimentar, a minha boca continua a ter vida própria e alimenta-se frequentemente de doces e guloseimas.
3. Ainda não decidi em que hospital vou ter a bebé, se no privado com o meu médico, se no público com outro médico qualquer. A verdade é que preferia ter no público, mas por outro lado o meu médico é tão descontraído que acho que íamos entender-nos bem num momento já de si com tanto stress.
4. Ainda não comecei a preparar a mala de maternidade. Nem comprei a primeira roupinha da bebé, "a" roupinha.
5. Não tenho falado tanto com a bebé e posto tanta música como primeiro tinha imaginado. Espero que o cérebro se desenvolva bem na mesma, mesmo sem Chopin ao deitar. Gostas de Arcade Fire também, não gostas?
6. Não temos ainda banheira, ovo ou a futura cama de grades. Mas temos mil ideias... Ando a pensar investir em fotografias de animais bebés (descobri um site que tem exatamente o que quero, da fotógrafa Sharon Montrose e vou começar a encomendar algumas) e num mapa gigante com pins dos sítios onde já fomos, para ela começar a querer conhecer o mundo e o reino animal.
7. Ainda não decidi se vou fazer babyshower ou se é demasiado "por-favor-da-me-presentes" e americano/piroso. Há um lado de mim que gosta.
8. Não me lembro de mais nada. Por isso, devo ter problemas de memória.

Posto isto, parece-me que o balanço tem sido positivo. Há um caminho a percorrer, mas esperemos que a bebé se aguente aqui até ao dia previsto. (Ouviste, filhota??) Copiando a frase famosa, só me resta esperar: "May the four(teen) be with you".

terça-feira, 25 de março de 2014

O aniversário é quando uma mulher quiser

Entretanto, como passei o dia de anos "sozinha" (i.e., a trabalhar longe dele e da família), decidi que também fazia anos no sábado. Sim, se o Natal é quando um homem quer, porque é que nisto dos aniversários não podemos também decidir a data que nos for mais conveniente? Pois então decidi que sábado também fazia anos. A quarta tinha sido um aquecimentozinho, apenas. Foi um dia giro, com um almoço e um jantar que até excederam imenso as expetactivas, mas no sábado é que ia ser. Estávamos quase a adormecer, já juntinhos, quando o lembrei da minha resolução, como quem não quer a coisa: "não te esqueças que amanhã é o meu aniversário". Ele riu-se. "Já sabes que podes acordar-me daquela maneira, já que é o meu aniversário". Não custa nada dar dicas, certo? No Natal também damos listas ao "Pai Natal", por que não fazer aqui o mesmo? "Está bem, está bem. Não me esqueço que amanhã fazes anos", respondeu. Ignorei o tom de gozo e dei-lhe na mesma o beijinho de boa noite.

Resultado? Lá acordei daquela maneira tão desejada. "Parabéeeeeeens!!!!", gritou-me, meio a cantar, enquanto eu ainda dormia profundamente debaixo dos lençóis. "Parabéeeeeeeeeens!!!", repetiu, a rir-se. "Acorda, aniversariante!! Fazes anos!!! Ou já não te lembras??" Acordei logo com dor de barriga de tanto rir com aquele teatro dele. Lá me colocou na cama um tabuleiro com o pequeno-almoço improvisado, mas com direito a torradas, sumo de laranja e meia de leite. Se estavam a pensar noutras coisas, lamento desiludir. Era mesmo a isto que me referia: pequeno-almoço na cama. Depois duma semana a trabalhar das 9h às 21h merecia. Tãaao bom! Depois, almoço junto à praia com a minha querida irmã também. Passeei a pancinha e mostrei-lhe a luz do dia. Mega gelado. Namorei. Muito. Por fim, o jantar oficial de aniversário. E, no domingo, celebração em família.

Qual quarta-feira de aniversário longe de tudo metida dentro de quatro paredes a trabalhar? Sábado, o dia de anos que optei por ter, tive o aniversário que senti que merecia. A felicidade às vezes é isto, não é? É estarmos a conduzir, encontrarmos uma estrada cheia de buracos, não desesperar, voltar para trás, ir por outro caminho, e chegar ao destino na mesma e até com melhor paisagem. Não temos que ser os primeiros, mas podemos ser aqueles que chegam de sorriso rasgado, "V" de vitória bem levantado e se divertiram mais na viagem.

... porque o aniversário é quando uma mulher quiser.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Sim, estou viva! (e mais velha)

Não escrevo há uma semana. Foi o maior período que tempo que estive sem escrever desde que tenho este blog. Só que, na verdade, não estive sem escrever estes dias. Na verdade escrevi todos os dias e até mais que uma vez ao dia. O que aconteceu foi que, pela primeira vez, não carreguei no botão “publicar”, no fim de escrever cada texto. Faltou-me a coragem ou a vontade de me expor, não sei bem qual das duas foi. Costumo escrever tudo e publicar sem perder um segundo a pensar se será informação demasiado pessoal ou não. Nestes dias, no entanto, pela primeira vez, questionei até que ponto deveria expor-me tanto ou se não seriam posts demasiado da “esfera privada”. Um dos posts, escrito na terça-feira, era a divagar sobre as diferentes formas com que cada um lida com as emoções mais profundas. Uma pessoa próxima morreu, como terão percebido pelo último texto, e a morte de alguém que nos é querido mexe sempre connosco, mas mexe com cada um de uma maneira muito própria. E escrevi de forma emocionada sobre como foi ver a pessoa que mais gosto no mundo a debater-se para ser forte, na despedida da sua avó, quando eu própria não consegui ser. Escrevi sobre os homens que têm capacidade de se mostrar serenos, mesmo quando o mundo deles desaba e quando os seus corações perdem para sempre uma parte, de forma irreversível. E escrevi também como, por vezes, é difícil proteger, tranquilizar e dar força a alguém que já de si mostra força pelos dois. Num dos dias mais tristes da vida dele, sinto que foi ele que me protegeu e abraçou a mim, apenas "neta emprestada". Sinto que o cenário se inverteu. E sinto que, infelizmente, acabou por sofrer ele sozinho, num recanto isolado e distante dele mesmo, onde nem eu consegui chegar e confortá-lo. Sim, somos todos diferentes e nem todos lidamos de forma igual com a alegria ou com a dor.

Outro dos posts era depois sobre o meu dia de anos e o facto de, pela primeira vez, ir passar a meia-noite do aniversário sozinha. Eram considerações sobre o trabalho, sobre a vida pessoal, sobre o estar (voluntariamente, diga-se) obrigada a estar longe de tanta gente para poder continuar a evoluir profissionalmente - pelo menos assim o espero. Eram, portanto, considerações sobre mim, mim, mim. Cheguei ao fim e aquilo pareceu-me tudo demasiado egocêntrico. Não tive coragem de publicar, ia só maçar-vos com teorias sobre a minha própria maneira de ser e como evoluí nos últimos anos até me ter tornado muito muito menos carente. Não carreguei no “publicar”, porque pareceu-me um texto mais escrito em jeito de auto-psicologia barata que outra coisa qualquer. Não carreguei no “publicar” e, em vez disso, desliguei o computador, desliguei a televisão, liguei a música e decidi começar o aniversário da melhor maneira possível. Eram os meus anos e decidi mimar-me. Tomei um longo banho, fiz um chá, sentei-me no sofá a ler com a chávena ao lado, bem quentinha, com a Malti aos pés a observar-me de forma desconfiada e a bebé aos pontapés, a acompanhar a batida da música. À meia-noite, o telefone começou a tocar e a distância deixou de existir. As palavras começaram a preencher parte daquele sofá, ao ponto de me sentir abraçada e acarinhada. As palavras são só palavras, eu sei. Mas à meia-noite do dia dezanove de março, aquelas palavras ganharam vida e abraçaram-me, não me deixaram sentir sozinha, e festejaram comigo os recém-chegados trinta e dois.

Outro dos posts era um balanço do dia de anos. E contava a conversa que tive com uma tia minha que, basicamente, me perguntou, depois de dar os parabéns, se não me sentia invencível desde que estava grávida. A verdade é que sinto. Não sei se acontece com todas as grávidas, mas comigo tem sido assim. Sinto-me invencível, sim. Sinto-me cheia de força e energia. Já a minha mãe me dizia que nunca foi tão feliz como quando estava grávida, que se sentia bonita, feminina e otimista como nunca. Finalmente percebo o que as mulheres da minha família me foram dizendo ao longo dos anos. O trabalho longe de todos ou com demasiadas horas, os problemas que vão surgindo no dia-a-dia, tudo é relativizado, de repente. E talvez por isso não tenha conseguido publicar o que escrevi sobre a perda duma pessoa querida, ou sobre o facto de estar sozinha no dia de anos – não quis deixar registadas emoções tão negativas. Elas existiram e tiveram importância – muita importância. Mas foram devidamente expurgadas também. Sim, sinto-me otimista e forte. Sim, talvez por isso tenha decidido não publicar relatos menos felizes. Tenho uma vida a crescer dentro de mim e é a isso que me agarro: ao futuro, aos próximos trinta e dois. E que sejam pelo menos tão felizes como estes. A vocês que esperaram por mim... obrigada! ;)

terça-feira, 18 de março de 2014

Querida bisavó

"Querida bisavó,

Disseram-me que tiveste uma ótima vida. Disseram-me que foste uma criança muito feliz, estudiosa, aplicada e cheia de amigas. Disseram-me que casaste com o homem que amavas. Que tiveste um casamento feliz, cheio de privilégios e alegrias. Ao terceiro parto, no entanto, sem saberem explicar bem porquê, perdeste um pouco a audição e passaste a ter que usar um aparelho auditivo. Isso fez com que tivessem que falar um pouco mais alto contigo para os ouvires bem. Conta-me a minha mãe, no entanto, que não se importava nada de falar mais alto contigo, porque adorava ouvir-te contar as histórias da tua infância e ver-te a ficar com os olhos azuis a brilhar como nunca, sempre que falavas dos tempos da tua meninice.

A minha mãe conta-me também que, apesar de ser só neta emprestada, sempre se sentiu muito acarinhada por ti. Conta-me que perguntavas sempre como estavam os pais dela e a irmã, sem exceção. E que adoravas a Malti, porque tiveste também um fox terrier que levavas para todo o lado, quando eras nova. Que coincidência, não é? A minha mãe contou-me que vocês faziam anos com dias de diferença e que, talvez por isso de serem do mesmo signo, se entendessem tão bem (o que é engraçado, tendo em conta que a minha mãe diz sempre que isso dos signos é treta). Estive agora a olhar para a tua fotografia e é engraçado reparar nas tuas semelhanças físicas com a avó. Ou nas semelhanças físicas dela contigo. Os dedos compridos até ao infinitivo, os olhinhos azuis de bonequinhas, até o corte e cabelo...

Sabes, gostava mesmo de te ter conhecido. A minha mãe diz que falavas como nos livros e que, sempre que te ouvia falar, quase que conseguia visualizar cada palavra escrita, porque conversavas como quem escreve. Nunca percebi muito bem o que isso quer dizer, porque infelizmente nunca vamos poder conversar. Tal como nunca vou perceber o azul dos teus olhos ou o comprimento das tuas mãos, porque nunca as pude tocar. O que vou sempre perceber é que  tenho pena que não tenhas esperado mais dois meses para nos conhecermos. Foste cedo demais. Ou terei sido eu a atrasar-me? Sopraste as velas do teu 90o aniversário e decidiste juntar-te ao amor da tua vida. A mim agora só me resta conhecer-te pelas palavras da minha mãe, a tua neta emprestada, do meu pai e das mil fotografias que passeiam pelas casas.
Querida bisavó, que descanses sempre em paz.

A tua quase-bisneta,
Constança."

domingo, 16 de março de 2014

Diálogo de dois homens na cozinha

Nota: este diálogo é baseado em factos verídicos. Por uma questão de privacidade, os nomes dos dois intervenientes e o lugar onde tudo ocorreu serão, no entanto, omitidos.
- Vou preparar dois gins para nós. Passaste no supermercado?
- Passei. Trouxe as coisas que pediste. Deixa-me ir buscar.
- Vou preparar dois Hendricks. Compraste pepino?
- Sim, está aqui.
- Ok... Deixa-me cortar duas fatias.
O gin começa a ser preparado. A água tónica escolhida.... Cortam-se as duas fatias.
- Este pepino está esquisito, não está?
- Está... Estará estragado?
- É... Não parece muito bom... Está com um aspeto estanho...
Os pepinos foram para o lixo. Optaram por outros gins com outros ingredientes.

Quanto aos pepinos estragados, eram exatamente iguais a courgettes, por coincidência.

Como adoro ver homens na cozinha...

sexta-feira, 14 de março de 2014

Cuidado: amor em excesso

Dum dia para o outro, o tempo lá fora melhorou – “olá, Sol! olá, calor!!” –, mas as redes sociais foram invadidas por dilúvios de lágrimas e vagas perigosas de raiva e desilusão. O que esteve na origem de tanta revolta? Este vídeo.
As pessoas sentiam-se enganadas. Desiludidas. Tinham acreditado que era amor verdadeiro que estava ali a acontecer. Tinham sorrido e accionado o lado romântico de si. E tudo tinha sido em vão... Afinal, o vídeo era apenas uma publicidade a uma marca de roupa.

Recuando no tempo, apenas um dia antes, abria-se o Facebook e mal se conseguia ler alguma coisa no meio dum mar de lágrimas de emoção e vendavais de “ohhhhhh” fofinhos. Pessoas que não se conheciam de lado nenhum desatavam aos beijos. Bizarro? Promiscuidade pura? Seria, se fosse no meio da rua e entre gente comum e de ar deslavado. Seria, se fosse na Casa dos Segredos. Seria, se não tivesse esta música de fundo. Seria, se os desconhecidos tivessem um aspeto mais duvidoso. Mas o vídeo pegou em pessoas magras e com bom aspeto, pessoas com ar “cool”. Ah, o vídeo juntou também casais hetero e homossexuais, por isso, mais “cool” era impossível. Além disso, todos os desconhecidos pareciam ter saído duma máquina de Photoshop humana e tinham o ar mais “beijável” e pronto-para-amar-mas-de-forma-envergonhada-e-socialmente-aceitável do mundo. O cenário “clean” e os olhares, primeiro envergonhados, apaixonados depois, fizeram o resto. Com aquela banda sonora e aqueles intervenientes, enfiar a língua na boca dum perfeito desconhecido tornou-se algo normal. Eu própria dei por mim feliz por estar a ver o filme em casa, já de pijama, e sem desconhecidos por perto, pois, caso contrário, acredito que teria rapidamente partido em busca de uma vítima desprevenida, de língua em riste. Felizmente, nada aconteceu e fui dormir. Mas acredito que muitos beijos na rua, no metro, nos autocarros, na Segurança Social, nas Finanças, nos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras, e até nas Lojas do Cidadão, se terão trocado nos últimos dias, fruto da visualização do tal vídeo.

Só que… ah pois... o vídeo era mentira. Os beijadores eram, afinal, atores contratados para fins publicitários.

Hmmm... Que estranho, não é? Ou não… Mas então alguém acreditou naquilo? Alguém acreditou que, de repente, pessoas que não se conhecem de lado algum, se beijariam assim de forma apaixonada e entregue em frente a câmaras? Sou romântica e até eu aprendi que o amor não acontece assim. O amor acontece nas entrelinhas dos olhares e das palavras. O amor acontece num beijo adiado. Não num beijo precipitado. Cuidado com as doses excessivas de amor. Geralmente são só para as câmaras. Sejam de filmar ou fotografar. O amor real encontra-se é nos intervalos do tal "click".

quinta-feira, 13 de março de 2014

Descobri o paraíso das grávidas...

... E chama-se piscina.
Desde a descoberta recente, não tenho conseguido fazer outra coisa no final do dia. O dia acaba, tenho o saco no trabalho já preparado e rumo para o ginásio. Andava a desmotivar-me com o tapete e com as máquinas, porque sentia-me pesadona e menos ágil (os oito quilos a mais começam a dar de si!!), na bicicleta, a barriga também começava a bater nos joelhos ao pedalar... Enfim, já não andava a ser tão divertido. Lembrei-me de pegar no fato-de-banho, chinelos de banho, óculos e touca e resolvi experimentar a piscina do ginásio, para ver que tal. Pois que tal? Já não quero outra coisa! Mal entrei na água, arrependi-me apenas de só o estar a fazer agora. É a melhor sensação do mundo! Nadei muito quando era mais nova e, de repente, foi como se voltasse a ter catorze ou quinze anos outra vez. Quando dei por ela, tinham passado dez minutos e eu sem parar. Mais dez minutos... Fiz umas respirações... Mais dez minutos. E o mais engraçado é que, em todo aquele tempo, não devo ter tido um único pensamento com princípio, meio e fim. À exceção da contagem das piscinas, tive sempre o cérebro vazio. Completamente vazio. Como se o meu corpo estivesse no seu habitat natural e estivesse apenas a disfrutar naturalmente. Repeti entretanto a natação e aconteceu tudo igual. Cá fora, as minhas proporções são gigantescas, com o meu corpo a atingir um novo diâmetro de dia para dia. Dentro da água, no entanto, sou o meu antigo eu outra vez, fresco e fofo, como diz uma amiga minha.

Recomendo. Grávidas que me lêem, atirem-se para uma piscina. Já! Ou então amanhã, que a esta hora as piscinas são capazes de estar fechadas. ;)

terça-feira, 11 de março de 2014

Barriga e prioridades

A barriga cresce de dia para dia. De repente, sinto que toda a gravidez até aqui foi a gozar e que só agora começa a gravidez a sério. Como se tudo tivesse sido um estágio muito fofinho e só agora tivesse realmente começado o trabalho a sério. E sinto que "isto" já é sério, porque a barriga já fala por si, as pessoas já não têm dúvidas quando olham para mim. Assim, até há pouco tempo, talvez porque sentia que não era notório o novo "estado de graça", não tinha tido ainda coragem de usar filas prioritárias nos supermercados, por exemplo. Sentia que teria que empinar a barriga e ainda chamar a atenção às pessoas e faltava-me coragem. Imaginava um diálogo algo assim: “Hello! Posso passar? ... Porquê? Porque isto é uma barriga de grávida e grávidas, podem passar. Onde é que está a barriga? Aqui, vejam. Esperem, deixem-me afastar um bocado o casaco para verem melhor. Já vêem?” Não estava para isso, por isso, fazia a minha vida nas filas normais e sem utilizar esta nova faculdade que assiste às grávidas. Só a semana passada, quando senti que a barriga de sete meses já falava sozinha (e porque tudo isto coincidiu com filas imensas de gente no Pingo Doce), é que arrisquei e saltei para uma fila prioritária, meia a medo. A verdade é que estava a sentir-me um bocado mal por estar a passar à frente de toda a gente só porque tinha mais barriga que eles (nem todos, devo sublinhar), mas… tenho esse direito, por que não usá-lo? Passei toda a gente pelo lado, muito sorrateiramente, com medo de ser insultada, e fui perguntar à empregada se podia pagar. Não sabia bem como é que as pessoas iriam reagir e se começaria a guerra das prioridades: velhos contra grávidas, grávidas contra pessoas com canadianas, velhos contra mais velhos, grávidas contra mais grávidas. Não aconteceu nada disso, afinal. As senhoras atrás de mim começaram a pedir-me desculpa por não se terem desviado:

- Desculpe, menina, nem a vimos!!

Os miúdos mais novos começaram também a juntar-se ao pedido de desculpas:

- Desculpe, estava aí há muito tempo?

Não estava à espera de tanta aceitação e compreensão. Para ser honesta, sinto-me na plenitude das minhas capacidades e este direito parece-me, para já, algo exagerado, daí só ter feito isto agora. Por outro lado, a fila prioritária existe para estes casos, não é? E se não a usar agora, quem sabe quando é que a conseguirei usar outra vez… E a verdade é que, aqui entre nós, nunca foi tão rápido fazer compras. O pacote da gravidez traz dores de costas incluídas e outros mal-estares associados? Pronto, pelo menos também traz este miminho da prioridade. Não sei se vou voltar a usar estas filas, mas valeu pela experiência e para perceber que as pessoas até parecem sensibilizadas para o assunto.

Confiança e bom senso

Hoje lembrei-me de organizar a minha caixa de emails pessoal. Sabia que tinha ali partes da minha vida completamente misturadas, e convenci-me que conseguiria colocar alguma ordem naquele caos sem sentido. O que aconteceu? Acabei deliciada com conversas antigas com amigas, trocas de emails apaixonados, comentários de rir, fotografias e mais fotografias... Nunca pensei que a caixa de emails pudesse afinal funcionar quase como um diário!

A dada altura, encontrei um pedido de ajuda de que já nem me lembrava e que me arrancou um bom sorriso da cara, ao reviver a história. Um colega do secundário mandou-me, há uns anos,
rascunhos de poemas que ponderava publicar e queria saber a minha opinião. A verdade é que, no secundário, eu era muito estudiosa, muito "marrona", e os meus colegas deviam ver-me como a croma da turma com quem se pode tirar as dúvidas. O curso para que queria ir não tinha a média de ingresso altíssima da Medicina, mas mesmo assim eu nunca ficava feliz com menos de 18, por isso, percebo que a turma visse em mim uma espécie de "mãezinha". Este meu colega queria que eu corrigisse os textos e lhe desse a minha opinião. O problema é que eu não tenho muita sensibilidade para poemas, e não conseguia alterar nenhuma frase sem estragar o "todo". Não adorei os poemas, mas também não conseguia alterar nada mantendo a rima bonitinha. Optei por desistir e responder apenas, depois de agradecer a confiança depositada em mim: "Não tenho sugestões de alteração..."

Sentia-em especial por ele ter confiado em mim para sugerir alterações, mas não conseguia alterar nada, por isso, mais valia não me por a inventar... O que me fez sorrir agora foi ler a resposta dele, duma confiança que acho que nenhuma boa nota alguma vez me deu ou dará:
"Ninguém tem conseguido dar sugestões de alterações. Todos adoram. Já me comparam ao Camões, sabias? Os comentários não podiam ser mais positivos. Obrigada na mesma pelo teu tempo."

Ali, naquele canto da minha caixa de entrada, estava uma lição de confiança. Ali não havia espaço para humildade ou demasiado bom senso. As coisas que se aprendem ao reler os emails antigos...

domingo, 9 de março de 2014

Quem tem o vício?

Desabafei no Facebook do blog, na Sexta-feira, que me tinha dado vontade de ser rica de forma fácil. Inédito, não? Que desejo estranho... Por isso, lá joguei (eu é mais todo o Portugal?) no Euromilhões, depois de mais de um ano sem jogar, segundo as minhas contas. Não ia com grandes esperanças, mas pensei que dois euros de aposta em troco de cem milhões de prémio podiam ser um negócio lucrativo. Digo eu, que não sou lido muito com matemática...

Hoje lembrei-me de ir comparar a chave vencedora com a minha aposta... Um número. "Ok..." Dois números iguais... "Hey lá..." Três números. "Ui ui..." Acabou ali. Mesmo assim, o meu coração ficou mais acelerado. Três números já me pareciam coisa séria. Perguntei a uma minha amiga se sabia quanto é que aquilo valeria. Foi espreitar as regras do concurso enquanto eu tentava resfriar o meu entusiasmo com pensamentos mais negativos. "Com certeza não será muito... Com certeza nem dá prémio", tentava dizer a mim mesma. Só que um lado de mim já estava a fazer uma dança imaginária de vitória com algumas centenas de euros.
- Ganhaste...
- Sim?... Quanto?...
- Parabéns!!
- ... Quanto??
- Treze euros!!!
Definitivamente isto não é para mim. Acho que vou passar outro ano sem cair em tentação nos jogos da sorte. A frustração que sinto por ter gasto dinheiro e não receber quase nada é tão, mas tão forte, que sei que nunca hei-de ser viciada em jogo nenhum. Não está simplesmente nos meus genes. Irrita-me esta aleatoriedade total e a quase garantia de falhanço. Segunda-feira lá regresso ao trabalho, porque já percebi que se algum dia quero ser rica terei que chegar lá pelo caminho do suor. Adeus, Euromilhões. Que tal mudares o teu nome para "Zeromilhões"?

sexta-feira, 7 de março de 2014

Ainda os sumos. Verdes.

Muitos poderão dizer que é uma questão de moda. Como a moda do sushi. A moda do brunch. A moda das corridas. “De repente, só se fala de sumos verdes! Secaaa”. E é verdade. Não tenho como contrariar o que é óbvio: dum momento para o outro, tornou-se um bocado mania falar-se dos sumos verdes. No entanto, quando as modas são saudáveis, tento resignar-me um pouco. Se gosto de ver estradas cortadas quase todos os fins-de-semana e ver corridas em todas as esquinas, a crescerem como cogumelos? Já cansa. Se adoro ver mil fotografias tiradas a pratos com temakis e nigiris todos dias? Não adoro. E às vezes só me dá fome, logo às 9h da manhã. As modas cansam, é um facto. Só que tento dar o braço a torcer quando são boas modas. E esta parece-me uma delas. Ainda ontem, depois dum dia a comer gelatinas e barras de cereais, e iogurtes, dei por mim a pensar “e fruta e legumes? Já comi?”. E a resposta era negativa. Toca a por ordem na casa, que a bebé precisa de alimentos em condições, e lá foram três brócolos, espinafres, um aipo, abacaxi, limão, canela no fim e sementes de linhaça. Como? Em forma de sumo. Muitos podem estar a torcer o nariz, mas a verdade é que sabe bem. Muito bem! E, em dois minutos, já me sentia melhor comigo mesma. Demora um bocado a cortar tudo e depois é chato lavar a liquidificadora, mas em vinte minutos temos uma “refeição” preparada e tomada.

Para quem não ficou enojado, mas sim curioso com a descrição que aqui fiz, tenho algo para contar: descobri um sítio (deve haver vários por todo o país, acredito que sim, se quiserem partilhem outros) onde fazem estes sumos. Paga-se mais que comprar os alimentos no supermercado e fazer em casa, obviamente, mas em cinco minutos temos o sumo, bebemos e vamos embora. Experimentei já três ou quatro “Sumos Funcionais” tamanho grande (os tais com frutas, vegetais e ainda ingredientes a que chamam “super alimentos”) diferentes e fiquei fã. Quando me sinto mal com as porcarias que ando a comer, obrigo-me a fazer em casa um destes sumos ou então, se não tenho tempo ou tenho simplesmente preguiça, passo nesse sítio que para mim tem sido o meu “cantinho”, o meu “segredo”. É acolhedor, não me parece ainda muito conhecido, as senhoras são simpatiquíssimas e até já sei que uma delas é do meu signo (as coisas que se conversam enquanto se espera por um sumo). Lá também fazem a dieta “detox”, para os mais corajosos – sim, a dieta de passar dias a sumos e sopas, basicamente, para libertar todas as toxinas marotas que habitem nos vossos corpos –, mas eu reservo-me essas dietas para quando os meus dentes não me permitirem trincar. Até lá, os sumos só me complementam a restante alimentação, não a substituem. Perguntei à nutricionista o que achava, e esta disse-me para beber o sumo em substituição da sopa, mas para completar com um prato constituído por uma carne branca grelhada ou peixe e uma pequena porção de arroz/ batatas/ massa e/ou legumes. Não me pareceu tão fã quanto eu destas modas, mas também não se opôs, por isso, mal não fará. ;)

Aos interessados, o sítio chama-se Lady Bug e fica situado na Av. João Crisóstomo, 23 B, em Lisboa. E, como sempre, não, não tenho comissão nenhuma, nem adianta perguntarem. Estou só a partilhar uma descoberta minha que espero que interesse a alguém.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Troca-se guarda-roupa

Subitamente, os casacos começam a não apertar como antes. As calças, mesmo as largas, começam a ficar ridículas, porque já não tenho nada remontamente parecido com uma cintura. Estou a pensar seriamente em trocar de guarda-roupas com alguém durante os próximos dois meses. Interessadas? Estou a pensar nalguém que emagreceu agora dois números de roupa, mas que sabe que vai ganhá-los no verão. Uma espécie de Matthew McConaughey portuguesa ou uma Alexandra Lencastre mais nova uns anos. Alguém?
Um dos meus casacos que já praticamente não aperta.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Posso congelar este sonho para sempre?

Há uns tempos, alguém me perguntou se andava a sonhar mais.
- Não passas a noite a sonhar? Dizem que as grávidas começam a ter sonhos super reais e a ter um sono muito mais leve.
Abanei a cabeça, na altura. Não, não conseguia notar nada de diferente nos meus sonhos.
- Ainda não devo estar nessa fase. Continuo a dormir como uma pedra.
Hoje, no entanto, acordei a meio da noite com o sonho mais especial de sempre. Tão especial que acho que fiquei de olhos fechados durante meia hora, a sorrir sozinha, feita estúpida, com medo de o esquecer. Quis prolongar aquele sonho o mais possível. O que sonhei? Sonhei com tudo. Sonhei que as águas rebentaram. Sonhei que fui para o hospital. Sonhei com o parto. Com as dores, com as enfermeiras a gritarem, sonhei comigo quase sem forças, e sonhei depois com a bebé ao colo. O corpinho dela, mínimo e desprotegido, enrolado sobre si mesmo, encaixado em mim, a procurar o meu calor. As minhas lágrimas a caírem, em silêncio. Sonhei depois que lhe estávamos a dar o primeiro banho. A sensação de a sentir mínima e frágil. Sonhei que tentei vesti-la, mas que não conseguia perceber como é que se enfiava a roupa. E com um desabafo que pode ser bastante premonitório:
- Vês, ela não tem roupa nenhuma! Temos que ir às compras.
Sonhei que lá a vestimos. Que voltámos a pegar nela, que a cheirámos. Que já estávamos em casa. Sonhei com o sorriso rasgado dela. Com o cabelo forte e escuro, já quase com caracolinhos. Sonhei com a pele clarinha dela, com os olhos rasgados e pestanudos, acizentados, e com duas covinhas, como eu tinha.
- É tão pequenina. Tão pequenina.
Dizia-me ele ao ouvido.
Sonhei com a cara dela, com a sensação de a tocar. E juro - foi tão, tão real, que vou tentar congelar este sonho durante os próximos tempos, até a verdadeira sensação de a ver e de a tocar venha preencher as minhas memórias e substituir finalmente este sonho. Até lá, este sonho é tudo o que tenho. Ah... isso e talvez a ecografia 4D se amanhã o médico vir, na consulta, que está na posição certa para a vermos.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Sustos

Hoje já estava a sonhar com o sofá e com o serão dos Oscars, mas antes fomos ao cinema ver A Grande Beleza, já que a emissão em direto daquele espetáculo começa sempre tardíssimo. A ironia? Apesar daquilo que o nome do filme parecia indicar, acabou por ser o momento menos belo da minha gravidez, até ao momento. Comecei a ter dores fortes de barriga e, a dada altura, senti toda a barriga a mexer-se sozinha duas ou três vezes, em grandes safanões. Primeiro, fiquei assustada e vieram-me as lágrimas aos olhos. Sou uma choramingas do pior e, se me assustar, as glândulas lacrimais dão logo sinal de si. Depois, sentindo as mãos dele a fazer-me festinhas na barriga e ouvindo-o a perguntar-me, preocupado "queres que faça alguma coisa?", pensei em voz alta "não, obrigada, isto é normal. São as contrações de Braxton Hicks". E naquele momento senti-me contente comigo mesma. Senti-me uma aluna que tinha estudado bem a lição e não foi apanhada em falso quando o professor a chamou, no meio da turma. A verdade é que a dor não é muito comum, mas li que é possível que acompanhe as ditas contrações. E li que era normalíssimo sentir as ditas contrações durante a gravidez. Por isso, ainda bem que existe tanta informação, é o que me apraz dizer. Pude manter-me calma e recuperar rapidamente a tranquilidade e boa disposição, para ver o filme em condições. Até agora a gravidez foi tão santa, que fui completamente apanhada de surpresa. Mas pronto, já passou. E o espetáculo precisa de continuar, não é?

Assim sendo, vou agora deitar-me e tentar sonhar com coisas felizes, depois de ter enchido os olhos com a passadeira vermelha e com o Oscar do Jared Leto. Vou tentar sonhar com o dia em que tenha possibilidade de voltar a usar este penteado como o da Sandra Bullock (usei no meu casamento):
Já agora, acompanhado por um vestido destes (lindo! Kate, se não o usares mais, posso perfeitamente ficar com ele):
 Ou destes (acredito que uma morena iria valorizar muito mais este vestido. Desculpa, Julie):

domingo, 2 de março de 2014

Comecei um diário...

... Mas versão alimentar. Fui à nutricionista na Sexta-feira, a mesma que me acompanhou antes do casamento, há dois anos, pela segunda vez desde que estou grávida. O que constatei não foi surpresa nenhuma: engordei, até ao momento, mais do que devia. Agora só posso engordar no máximo dois quilos até a bebé nascer. E sei que isto aconteceu por pura estupidez e preguiça minha (não cumpri nem uma décima do plano de alimentação saudável à risca, como imensas porcarias), por isso, a solução encontrada foi começar a escrever tudo, mas absolutamente tudo o que como. Isso, e encher a casa e o escritório de alimentos saudáveis. A ideia é evitar voltar a ser atacada por desejos incontroláveis por comida que me levem a tirar sacos de bolachas com 500 calorias (aconteceu esta semana) da máquina de snacks do escritório e a devorá-las em dois segundos (vi só as calorias no fim) ou a passar no Mc no fim do ginásio, por estar há demasiadas horas sem comer. O acordo que fiz foi, portanto, muito simples: manter o plano estabelecido, ir às compras para poder andar sempre com snacks saudáveis e muita fruta por perto, e ainda manter o meu diário alimentar sem mentiras.

A nutricionista disse-me algo básico, mas que precisava de ouvir: engordar na gravidez deve ser sustentado numa alimentação saudável e de onde a bebé possa retirar todos os nutrientes de que precisa. A bebé não precisa de doces, fritos, refrigerantes, nem demasiados hidratos de carbono. Resultado? Até ao momento, resisti a gomas que os meus colegas do escritório estavam a dar, às batatas fritas do Prego da Peixaria, resisti às pipocas no cinema, e enchi o frigorífico de fruta, gelatinas, iogurtes magros, purés de fruta, queijos frescos light, fiambre de peru, triângulos da Vaca que Ri light, legumes para saladas e sopa de espinafre sem batata, enchi o congelador de carnes brancas, peixe e legumes, e enchi ainda os armários com tortitas de milho, bolachas cresm crackers e barras de cereais com pouca gordura. Não consigo mentir no diário e tenho vergonha na cara, por isso, acho que vai ser desta que, com a pressão de mostrar o que comi, vou passar a entrar nos eixos. Ou, pelo menos, a tentar com mais convicção. A verdade é que, talvez por nunca ter tido enjoos ou mal-estares na gravidez, ando há meses sempre com um apetite voraz. Será da gravidez, esta fome toda? Às vezes penso se terei uma filha ou outra pequena alarve dentro de mim...