sexta-feira, 7 de junho de 2013

Depois do "viveram felizes para sempre"

Primeiro, "antes do amanhecer", assistimos ao enamoramento em Viena. Depois, "antes do anoitecer", somos espectadores do reencontro em Paris. Por fim, "antes da meia-noite", testemunhamos o momento pós-consagração e pós-concretização do amor. E assim temos, espaçadas entre si por nove anos cada, as várias fases de uma relação retratadas no cinema. A intenção não era essa, a crer nas palavras do realizador e dos dois actores. Mas quis o acaso que assim fosse e que, dezoito anos depois da primeira troca de palavras, possamos recuperar uma das duplas românticas mais reais, inspiradoras, com mais sentido de humor e apaixonantes que já vi no cinema.

Desta vez, não se discutem diferenças sócio-culturais entre um americano e uma francesa. Brinca-se com o "rabo francês" e com o "menino americano", mas nove anos de convivência atenuaram - e bem - as trocas de galhardetes que envolviam clichés sobre o ser americano ou europeu. Não se discute também de forma tão intensa a realização pessoal e profissional, como aconteceu no segundo filme. Os nossos heróis estão adultos. Mais que um americano e uma francesa a quererem lutar pelos seus sonhos, querem saber amar-se. Querem saber viver um com o outro. Querem encaixar o amor que sentem nas suas vidas tão preenchidas com empregos, lides domésticas e duas filhas a tempo inteiro (mais um filho do outro lado do Oceano a deixar saudades). Querem voltar a ser aquele casal que saiu do comboio em Viena, conversou a noite toda e se apaixonou irreversivelmente. Querem voltar a ser aquele casal que se reencontrou em Paris, fechou as janelas do quarto e fez amor durante dois dias seguidos, até atenuar um pouco as saudades que sentiam.

Nove anos depois de ficarem juntos, o difícil não é responder a perguntas como "será ele o tal?". Ele é o tal. Ponto final. Respondido. O difícil agora é conciliar o conto de fadas sonhado com a vida real. O difícil é desligar o botão "rotina" e ligar o botão "paixão". A dado momento, ele desliga-lhe o telemóvel e quer arrancar-lhe o vestido. Ela liga o telemóvel. Ele beija-a. Ela encontra problemas existenciais, mesmo com o vestido semi-despido. Ele quer continuar. Ela sai de casa. Ele atira-se ao sofá, desesperado. Ela volta. Ele diz-lhe que é louca, mas que a ama. Ela faz um chá. E diz que já não o ama. Sai. Volta. Ele abre uma garrafa de vinho. Ela sai. Ele vai atrás. São loucos? Não. Estão desesperados. O amor entre um homem e uma mulher pode ser assim: louco. Desesperado. Ela pode querer um chá e ele preferir vinho. Ele pode querer o telemóvel desligado e ela preferir ligá-lo. Ele pode querer fazer amor todas as noites da mesma maneira e ela estar farta. Pode ser isto tudo e muito mais. O amor não é linear, nem é um "e viveram felizes para sempre". O amor é o que se vive depois dessa deixa. Depois de a tela se fechar e todos os espectadores saírem da sala de cinema. O amor é o ter que encontrar (sem nunca desistir) a felicidade no loooooongo "para sempre". Este filme é sobre o que acontece no momento em que todos os espectadores abandonam a sala, depois do final feliz. É sobre a realidade. O saber viver a dois. E, por mim, tinha trazido o Jesse e a Céline para casa, adoptava-os e ficava a conversar com eles ininterruptamente até ficar sem voz. São, sem dúvida, o meu casal preferido do cinema de sempre. E, por mim, podem voltar a cada nove anos.

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