terça-feira, 26 de março de 2013

Não digas... é pecado

Cresci com uma frase a acompanhar-me: "não se pode dizer palavras feias, é pecado". E eu, que até andei num colégio católico e fui sempre muito religiosa, ia cumprindo. Nunca dizia palavrões. Nunca. Não dizia mal de ninguém. Era pecado. Não se gozava com ninguém. Era pecado. Cresci assim e lembro-me de me confessar ao padre e dizer algo como "apeteceu-me responder torto no colégio", cheia de medo de arder para sempre nas profundezas do inferno, por tamanha transgressão.

Naquela altura, qualquer coisa era pecado para mim. Sei que não é típico da minha geração, da cidade em que nasci, nem tampouco do meio em que estava inserida - porque os meus pais não são católicos praticantes - mas eu auto-impunha-me esta disciplina rigorosa. Lembro-me que contava tudo ao padre (o que ele se deve ter rido à minha custa): "hoje olhei para a professora e pensei que ela estava mesmo gorda; vi um filme na televisão em eles davam beijos e viram-se as mamas dela; ando muito gulosa; não ajudei em casa; às vezes penso em palavras feias". Ou seja, os palavrões estavam no mesmo saco dos restantes pecados. E o pior é que o padre que me ouvia acenava, apenas, e chegou até a adormecer a meio da confissão. Não me ensinava grande coisa e eu saía de lá sempre igual.

Quando cresci, deixei de ter esta visão tão redutora do que era certo e errado. E começou a sair-me um "m..." a conduzir, por exemplo. A primeira vez que o disse junto da minha família, a minha irmã ficou escandalizada. De vez em quando sai-me uma palavra ou outra, mas se fizer um balanço geral, concluo que disse poucas vezes palavrões, durante toda a vida. Mas disse poucos palavrões, não porque ache pecado, hoje em dia, mas simplesmente porque não tem a ver comigo. No entanto, algumas das pessoas mais próximas de mim têm discursos cheios de calão e são das pessoas que mais me fazem rir, porque acabam por ter um vocabulário mais extenso e rico. Contam uma piada e utilizam o português todo, insultam alguém com todas as letras, e logo a seguir conseguem falar com educação, formalidade e delicadeza nos momentos próprios.

Já não vejo as coisas da forma redutora do "não digas que é pecado". Pelo contrário: apesar de ter um discurso muito certinho, acho piada a quem fale de forma contrária à minha. E vocês, que relação têm com os palavrões?

9 comentários:

  1. Devo confessar que a minha relação com os palavrões é tu cá, tu lá!

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  2. Saem-me alguns filh@ da p..., mas mais na estrada, quando não ouvem. Principalmente quando quero atravessar na passadeira e não se dignam a parar. Quando perco dinheiro, se avaria alguma coisa ou quando o computador não colabora, sai-me um "porra, pá".

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  3. Jessica10:32

    Também nunca fui de dizer asneiras. Os meus pais nunca disseram grandes asneiras à minha frente mas todos os meus amigos dizem-nas das grandes. Nunca me ouviram dizê-las, faz parte de mim.

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  4. Anónimo11:04

    Eu não digo palavrões, a não ser m***dinha quando me magoo ahahah mas é a única palavra e é muiiito raro pronunciá-la. Também fui educada assim, mas sobretudo porque detesto palavrões, acho palavras mesmo feias, e soa-me sempre feio seja em quem for.
    Na preparatória e secundária, uma das minhas melhores amigas falava bastante mal, em cada frase lá ia um ou 2 palavrões (no mínimo!), eu achava que lhe ficava tão mal, mas tão mal que estava constantemente a dar-lhe na cabeça... até que os palavrões deixaram de existir! Cada vez que oiço alguém dizer uma frase em que metade é constituída por palavrões, não sei bem porquê, mas aquilo irrita-me :p

    Raquel P.

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  5. Não gosto de dizer e não gosto de ouvir. Quando estou muito zangada, se estiver sozinha digo...mas cresci a ouvir muitos :)

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  6. Anónimo13:52

    Na verdade, acho terapêutico dizer palavrões! Não tem que ser em todas as frases, mas sabe mesmo bem dizer uns "filha da p*ta" e "vai para o car****" de vez em quando :)

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  7. Bem, para descrever o meu percurso no mundo dos palavrões é preciso começar pelo início.
    Embora não tivesse essa coisa de ser pecado, na infância era coisa que não existia no meu vocabulário nem na minha mente. Os primeiros foram ditos no ciclo, naquela fase de rebeldia normal da idade. E sempre fui dizendo um ou outro de forma pontual, mediante o momento e a situação.
    Tudo isto acontecia deste modo enquanto vivi em Lisboa. Depois mudei-me para o Norte e levei com uma dose gigantesca de palavrões, alguns até totais desconhecidos para mim. E aqui, estranho é quem não usa nada disso. O que é certo é que acabei por ser um pouco contagiada e, passados mais de 10 anos de Norte, digo mais palavrões do que seria aceitável na capital, por exemplo.
    No entanto, a verdade é que, como dizes, é possível falar assim entre amigos na borga e saber estar de outra forma, mais educada e comedida quando a situação assim o exige.

    ndnan.blogspot.pt

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    1. Anónimo11:13

      Eu nasci, cresci e vivo no Norte (tenho 25 anos), mais precisamente em Braga e estudei no Porto durante 4 anos, tenho família no centro/sul, já lá fui várias vezes, convivo com eles e outras pessoas sem ser do Norte e sim... talvez no Norte seja mais comum usar palavrões, embora não seja só aqui! E vejo-me rodeada deles aonde quer que vá por cá, mas isso não influencia a minha linguagem... não sou contagiada e não os uso de todo :)
      Raquel P.

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  8. Anónimo06:57

    Custa-me ouvir palavrões nas crianças enquanto brincam
    fico mesmo chocada, e penso para mim, raio de educação...
    Será moda? tendência dos tempos?
    Para mim nem 8 nem 80.

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