quinta-feira, 21 de março de 2013

A cultura serve-se à mesa.

Fomos jantar fora com a família dele e falávamos de cultura a propósito de uma determinada prova nacional de cultura geral que se aproximava. Discutíamos o conceito de "cultura geral" e o que era para cada um de nós: para uns, a capacidade de se conseguir debater diferentes temas e áreas do conhecimento com igual destreza, mas dependente de muita leitura de jornais, revistas, livros, e acompanhamento de notícias. Para outros, era a capacidade de debater áreas diferentes das nossa área de estudo, desde as ciências às artes, desporto, geografia ou religião independentemente de terem sido estudadas ou não. Todos concordámos que era um conceito diferente da inteligência, mas que a inteligência fazia a cultura sobressair.

No fim deste pequeno debate, ficámos todos entusiasmados e começámos a testar os conhecimentos uns dos outros, através duma aplicação para o telemóvel com perguntas.
- O que têm em comum Rodrigo de Freitas, Manuel Bernardes, José Falcão e Vergílio Ferreira?
- Qual é a maior ilha do mundo?
- O que têm em comum Franz Kafka, Castro Alves, Álvares de Azevedo e Frédéric Chopin?
- Esta bandeira é de que país?
- E esta?

Empancámos na última bandeira e não havia meio de adivinharmos. Qual seria? Subitamente, os cafés chegaram. Nem me tinha apercebido que já os tínhamos pedido, tamanha era a concentração no jogo. O empregado era novo, vinte e poucos anos. Cara de poucos amigos, costas tortas, talvez cansado do dia.
- Por acaso não sabe que bandeira é esta, pois não?, perguntámos-lhe já desesperados.
- É do Equador, respondeu ele, sempre com ar de mal-encarado.
Pegou no tabuleiro e saiu, sem acrescentar mais nada.

Fomos ver as respostas. Estava certo. Era o Equador. Não é que o raio do rapaz mal-encarado, em dois micro-segundos fez-nos ver a todos o que era cultura? Calou-nos a todos. Desligámos o jogo. Estão a imaginar o "Bom Rebelde"? Para mim, foi um verdadeiro momento Bom Rebelde. Às tantas está mesmo ali escondido um geniozinho. Acho que vamos lá jantar brevemente para o confirmar.

3 comentários:

  1. Trabalhador-estudante talvez;)

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  2. Adorei o Bom Rebelde e a anedota bastante gráfica contada pela miúda. O moço farta-se de jogar PES e conhece as bandeiras todas. Além de que Portugal jogou contra o Equador há pouco tempo.

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  3. concordo, às vezes a vida pode-nos virar as costas e não ter tantas oportunidades como outros, mas não é sinal de inferioridade.

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