sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Para a minha pequenina

Podes sentir-te triste e pouco lutadora, mas vou contar-te algumas coisas sobre ti. Talvez não te lembres tão bem como eu, porque sou mais velha e já cá ando há mais tempo, mas há coisas sobre ti que sei até melhor que tu.
Sei que, com 2 anos, foste mais forte que todos nós. Enquanto todos gritavam, porque te tinhas magoado com gravidade e cortado um dedo, tu, bonequinha e com os teus olhos chinezinhos, sorrias para nós com ar admirado. Foste para o hospital como quem vai passear. Foste uma guerreira. No teu aniversário, perante as nossas perguntas pelas tuas dores, pedias-nos, sorridente, para abrir os presentes e soprar as velas do bolo.
Sei que, com 10 anos, organizaste uma manifestação contra a destruição das árvores da tua escola. Preparaste, distribuíste inquéritos e uniste um grupo de revolucionários pela tua causa. Queriam construir um parque de estacionamento. Tu organizaste uma manifestação de pequenos revolucionários, revolucionários com pouco mais de metro de gente. Uma pequena grande lutadora. E nós, apesar de não o admitirmos em voz alta, estávamos orgulhosos de ti.
Sei que, com 11 anos, tiveste que arranjar advogado. Lembras-te disso? Encontraste um pequeno cão abandonado, teimaste que estava doente e que tinha que ir ao veterinário. Levaste-o para as aulas, tentando encontrar a solidariedade da professora. Perante a insistência desta em expulsar o cão da sala, disseste que, se ele saísse, tinhas que sair também. Quiseste um advogado para te representar no Conselho Directivo. Fizemos ar de zangados e, quando viraste costas, rimo-nos com a tua ousadia.
Sei que, com 16 anos, quiseste fazer parte da lista à associação de estudantes. Organizavas debates, preparavas a campanha. Ficámos preocupados com as notas, mas conseguiste sempre o que querias.
Eras a minha pequenina, mas foste sempre a minha inspiração.
Há também algo que te quero confessar: várias vezes fui ver, sem saberes, os teus bolsos. Tinha medo que começasses a fumar. Tenho vergonha de admitir, mas espero que me perdoes.  Tinha pesadelos em que te apanhava a fumar, a beber, a drogar-te. Nunca aconteceu. Paranóias de irmã velha? O que sei é que calaste estes meus pesadelos. Apenas me fizeste e fazes sentir ridícula por pensar nisso.
Sei que sempre foste e serás uma menina cheia de valores, cheia de ideais, cheia de força. Uma lutadora, uma guerreira.
E sei que agora vais estar a ler o texto e a pensar "que exagero, não sou nada assim".
És. Não duvides de ti. Nem por um segundo.
Acredita em mim. Acreditas?
Daqui a uns dias vais estar a sorrir outra vez.
Foste desenhada a sorrir. E não existes de outra maneira.
Acreditas em mim?
Há coisas que simplesmente sei.

6 comentários:

  1. Oh! Que ternurinha :)

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  2. tão lindo ver assim um amor entre manas!!

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  3. Anónimo16:57

    Não sei por gostos aqui... Mas gosto! Tb conheço a pequenina e já assisti a rasgos desses!! Por isso a conclusão não podia ser mais acertada! Manas sem... Preconceitos forever!! Beijinhos Isabel

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  4. Que lindo amor de irmãs...uma dedicatória maravilhosa sem dúvida!

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  5. Dani21:20

    Estou ha mais de 1 hora a ler os teus posts, e só agora com este texto é k percebi quem eras Pippa Coco :) Essa pequenina é também uma inspiração para mim!! Apesar de sermos da mesma idade, smp a vi cmo uma irmã mais velha, smp me axei mais insegura e fragil e a ela tão segura e desenrascada! Lembro me de sermos pequeninas (13,14 anos) e de irmos a festa do Pinheiro (eu pela primeira vez, naquela confusão) e de só me sentir segura se lhe estivesse a dar a mão, a segui-la, sem a perder de vista, pois para mim ela sabia smp o que fazer :) E hoje em dia axo o mesmo :)

    Estou a adorar o teu blog, vou ser uma leitora assidua a partir de agora! :)

    Beijinho*

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  6. A pequenina20:10

    Chorei muito a ler este texto e o comentário final! Vermo-nos aos olhos de alguém que gosta tanto de nós, dá muita, muita força! É difícil valorizar as coisas que nós próprios fazemos porque na verdade aconteceram com a maior naturalidade e sem heroísmos, mas sabe bem saber que pareceram tão corajosas e inspiradoras! Gosto muito de ti. Um beijinho enorme

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