sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Mentor

Primeiro, pelos actores. Joaquin Phoenix. Philip Seymour Hoffman. Amy Adams. Todos nomeados para os Óscares. Todos actores brilhantes.
Depois, pelo realizador. Paul Thomas Anderson, a fazer-me recordar Magnólia, um dos filmes mais intrigantes e marcantes de sempre.
Por fim, a história dum movimento filosófico - "A Causa"- nascido no início da década de 50, a fazer lembrar um pouco as origens da Cientologia, com um líder um pouco louco, incapaz de lidar com críticas, mas preparado para gerar um culto em torno das suas ideias ("I am a writer, a doctor, a nuclear physicist and a theoretical philosopher. But above all, I am a man, a hopelessly inquisitive man, just like you."; "If you figure a way to live without serving a master, any master, then let the rest of us know, will you? For you'd be the first person in the history of the world.").
Estava reunido um cocktail de luxo a que não podia resistir. Sentei-me. Inspirei fundo e preparei-me para um filme que me prendesse do princípio ao fim.
Começou logo no primeiro instante: a luz imensa, a praia idílica, o retrato sépia, o vestuário da época, a música de outros tempos, frenética e alienada... e um Joaquin irreconhecível: magro, transformado, também ele com ar alienado e demente."Quem será este novo Joaquin?" Somos apresentados a esta personagem que praticamente nos faz esquecer o actor por trás: Freddie Quell, um veterano da Marinha que esteve anos a lutar ao serviço da bandeira norte-americana, durante a II Guerra, e regressa agora, todo ele cheio de traumas do passado, cicatrizes internas que o tempo não apaga, e gasolina. Sim, muita gasolina e outras substâncias estranhas que juntava e bebia, para tentar enganar o que os olhos viam e o corpo não conseguia aguentar. Tanta dor mergulhada em litros de bebidas estranhas transformaram-no em alguém incapaz de viver em sociedade, um animal sem regras, comandado pela testosterona em estado puro. E é vê-lo gritar, agredir, é vê-lo procurar mulheres como um animal com cio, é vê-lo a beber líquidos indecifráveis, é vê-lo como alguém sem salvação possível.
Ou será que tem salvação, afinal? Um belo dia, por obra do destino - mas será mesmo o destino? - conhece o seu mestre, Lancaster Dodd ("You look like you've traveled here. How else do you get someplace?"). Para Dodd, Quell torna-se um filho, uma cobaia, um empregado, um barman, um aprendiz, ou um livro em branco onde pode escrever o que quiser. Surge uma relação estranha e incompreensível, com um irascível líder a treinar no seu novo protegido as suas estranhas técnicas: a regressão, os questionários, o "não-pisques-os-olhos-ou-começamos-do-início!". Tudo isto regado agora pelas poções mágicas que Quell vai preparando, cheias de segredos. E novo livro vai sendo escrito. Novas ideias pululam. Novos seguidores se juntam.
"- Man is not an animal. We are not a part of the animal kingdom. We sit far above that crown, perched as spirits, not beasts. I have unlocked and discovered a secret to living in these bodies that we hold." , prega Dodd, perante o olhar atento da mulher, dos filhos, dos restantes ouvintes e de Quell, o mais animal de todos ali presente.
No entanto, se em Magnólia, do mesmo realizador, saímos do filme emocionados, tocados, esperançados, em "O Mentor", senti que deixei as minhas emoções no cinema e saí de lá sem nada. É um bom momento de cinema, são duas grandes interpretações (confesso que, apesar de gostar muito da Amy, não me pareceu papel merecedor de Óscar), adorei a fotografia e a luz, mas o filme terminou e senti que faltava algo no final. Merecia um final mais grandioso e não lhe deram.
Não tinham que ser sapos a cair, nem a Aimee Mann a cantar. Bastava um pouco mais. Da forma como termina, senti que o próprio filme se afogou nos líquidos estranhos que ambos os protagonistas foram bebendo ao longo do mesmo, sem surpresas.
Lembram-se deste videoclip? Para mim, é uma boa metáfora do final do filme:

1 comentário:

  1. Por acaso estava curiosa sobre este filme. Os actores e o nome chamaram-me logo a atenção.

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