sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Querido Pai-Natal-do-tempo-das-vacas-gordas

Disseram-me que tinhas sido acusado de fraude fiscal.

Perguntei se precisavas de advogada, mas explicaram-me que estavas numa ilha privada, em pleno Pacífico, da qual, por coincidência, não podes ser extraditado. Folgo em saber.

Não li o processo, mas quero que saibas que, até prova em contrário, vou sempre acreditar na tua inocência. Além disso, pela data a que os crimes se reportam, julgo que estarão prestes a prescrever, certo? Sim, sabes que tenho obrigação de saber estas coisas.

Bem, mas não é para falar de coisas tristes que te escrevo. Como sabes, o país anda mergulhado num pessimismo geral e esta carta pretende ser alegre.

Escrevo-te, porque tenho saudades tuas. Tenho saudades de ouvir, na madrugada de 24 para 25 de Dezembro, os sinos das renas, pontualmente, à meia-noite. Tenho saudades de ouvir os teus passos, fortes e determinados, a avançar no piso de cima daquela sala sempre aquecida pela lareira. A porta que abre, com convicção, e fecha, acelerando o meu coração. Tenho saudades de te ver descer. O famoso fato vermelho, a barba, as botas da neve e o teu gorro tão característico. E o saco? O saco cheio, a arrastar-se. E os meus olhos colados "que grande saco!". E o ritmo cardíaco a aumentar, a aumentar, de expectativa.

Chegavas e iluminavas a casa. "Ho ho ho", dizias. E aquilo soava-me a sapiência, não sei porquê. Sim, porque eras capaz de estar em todas as casas do mundo num só dia, contra todas as explicações que a ciência, e a razão, e os professores, e os meus pais pudessem dar.

"Está muito frio lá fora, Pai Natal? As renas estão boas? E o Pólo Norte? As crianças portaram-se bem, Pai Natal? Merecem boas prendas? Olhe que ali o ... não comeu sempre a sopa."

Mas tu perdoavas tudo. Perdoavas a sopa que ficou no prato. Os legumes por provar. A fruta deitada fora. As vezes em que não arrumámos o quarto. Que faltámos às aulas. Ou até aquelas vezes em que tivemos más notas nos testes. Sem moralismos, nem lições. Perdoavas e sorrias.

Distribuías os presentes por mim e pelas restantes crianças primeiro. Os adultos vinham depois. Dizias umas piadas e depois partias, rumo aos céus, por esse Mundo fora.

E às vezes questionava-me de onde vinha toda a tua fortuna. Bem, na verdade questionava-me durante um segundo e depois ia abrir os presentes. E ficava sempre feliz por me conheceres tão bem e acertares sempre nos meus gostos.

Tenho muitas saudades tuas. E penso que falo em nome de todas as ex/ presentes/ futuras crianças deste mundo quando digo que fazes cá falta.

Aproveita esses dias de Sol para descansar. E vê se regressas depressa.

Atenciosamente,
a tua sempre (saudosa)
Pippa.



PS: e porque sei que nem me ias reconhecer se não fizesse isto, vou-te dizer algumas coisas que me faziam falta se estivesses por cá por Portugal: (i) uma casa maior; (ii) um relógio; (iii) uns óculos de sol; (iv) uma passadeira para correr nos dias de chuva; (v) roupa de desporto e gadgets para ver os kms que corri; (vi) um telemóvel novo, que o meu, como sabes, caiu de cabeça num pararelo e morreu; (vii) livros, muitos livros; (viii) uma caneta nova para parecer uma profissional de sucesso; (ix) roupinha gira, porque não? olha só estas calças que giras e baratinhas (aqui) aqui do lado; (x) esta última parte das calças era a brincar contigo, calma. :)


3 comentários:

  1. Anónimo02:13

    Pippa és advogada? Se sim posso entrar em contacto contigo? Assunto profissional. Rita Herédia

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    1. Rita, o meu email está no blog, podes escrever-me. Perguntas pessoais/ técnicas prefiro responder por lá ;) Obrigada.

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    2. Anónimo11:07

      Já está. obigada.

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